quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Gênio da raça

Pouca gente neste vale de lágrimas sabe exatamente o que pensa o governador José Serra. Apesar de estar na política há bastante tempo e escrever sempre que pode para o jornal que o adotou como a um filho, a Folha, ele parece seguir à risca um dos mandamentos mais imperativos de sua profissão: "Não ouseis", diz a sentença que Serra executa como se fosse uma lei pétrea.

Assim, ele vai seguindo sua vida pública. Nada faz que o condene aos olhos do povo, mas também nada faz que o consagre como, por exemplo, um grande administrador, um excepcional líder.

Claro que essa é a sua face visível. Sobre a sua intimidade, o branco. Ou a escuridão total, já que línguas mais insinuantes juram ser ele uma pessoa de ambições desmedidas, hábitos noturnos e poucos escrúpulos. Mas essas são meras conjecturas. O Serra, que de vez em quando sorri em público aos seus interlocutores, continua uma esfinge.

Outro dia, numa dessas missões protocolares que o obrigam a sair de sua toca - ou de seu palácio, como queiram -, ele visitou o presidente Lula no Planalto.

À saída, encontrou um batalhão de repórteres ansiosos por obter dele uma palavra que fosse sobre o grave momento pelo qual passa o mundo. Fato raro, conseguiram arrancar algumas palavras do chefe dos paulistas: "Acho que a gente consegue sair dessa situação crítica atuando com prudência e antecipando os acontecimentos, tanto do ponto de vista monetário quanto do fiscal'', disse ele.

Vejam bem que frase distante dos clichês aborrecidos de outros personagens. Uma oração que mostra bem o genial estrategista que se esconde por detrás daqueles ternos sem nenhuma graça que veste. Pois quem, neste instante, se lembraria de juntar, numa mesma ação, a prudência, algo próximo da inação, à profecia, dom raríssimo concedido apenas ao escolhidos?

Serra, definitivamentem deveria permitir mais vezes que sua brilhante inteligência fosse exposta ao público. Só assim teríamos a dimensão de quem, por vontade soberana do povo, será conduzido magnificamente ao posto máximo da nação em futuro breve, muito breve.

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