quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Notas eleitorais

Boneco rebelde
O fato já ocorreu muitas vezes: a criatura se volta contra o criador. Uma das últimas vítimas foi Paulo Maluf, que elegeu como sucessor na prefeitura de São Paulo um poste chamado Celso Pittta. Deu no que deu. Além de se virar contra o padrinho, Pitta arruinou a cidade. Gilberto Kassab pode não ser um poste - está mais próximo de um boneco de ventríloquo que ganha vida quando assim deseja o governador José Serra. Há o risco, porém, de que todos os planos feitos para Serra a partir de sua vitória se desfaçam por causa de algum gesto impensado. Um gesto típico de quem experimenta o poder e por ele se apaixona.

Torcedores disfarçados
Os tais "cientistas políticos" que de quando em quando surgem nas páginas dos jornalões, nas telas da TV e no radinho de pilha, são unânimes em dizer que o governador José Serra foi o grande vencedor da eleição municipal deste ano por ter levado seu secretário Kassab ao segundo turno com votação superior à inimiga Marta Suplicy. E que, em conseqüência disso, o presidente Lula perdeu essa batalha. Com isso antecipam o pleito presidencial de 2010: ora, argumentam, Lula não conseguiu transferir a sua popularidade para seus candidatos. Só que na análise que fazem omitem os locais em que outros nomes dos partidos da base de apoio ao governo foram os vencedores. Exercem, assim, uma "ciência" que pode ser equiparada à astrologia.

Palpite infeliz
A presidente nacional do Psol, Heloísa Helena, eleita vereadora em Maceió com mais de 20 mil votos, desceu o verbo na legislação eleitoral que privilegia o voto na legenda. Para ela, é injusto que um candidato que recebe votação superior a outro, muitas vezes não ganhe o mandato legislativo em virtude do coeficiente eleitoral. Foi o que ocorreu com o Psol de Maceió: a votação de Heloísa Helena elegeu mais um vereador para o partido, com menos de 500 votos. O eleito não gostou nada do que ouviu. Deve ser a próxima baixa dos socialistas.

Futebol de botão
Em São Paulo, os palmeirenses não reconduziram o eterno ídolo Ademir da Guia à Câmara dos Vereadores, nem os corintianos tiveram força para eleger Vladimir ou Dinei. Em compensação, o cartola-mirim do São Paulo, Marco Aurélio Cunha, recebeu votação consagradora e fará parte da bancada do PFL, hoje chamado de DEM. O mandato é uma recompensa pelo trabalho incessante, por meio de provocações e zombarias aos adversários, que Cunha tem feito para tornar o seu o clube mais antipático e arrogante de todos os chamados "grandes" paulistas. Se o seu comportamento na política for o mesmo do adotado no futebol, não esquentará cadeira na Câmara.

Caso perdido
O PT paulistano diz pretender conquistar votos da classe média para reverter o quadro desfavorável à sua candidata, Marta Suplicy. Se realmente fizer isso, pode se preparar para 2012. Não existe nenhuma chance de tais eleitores, que formam o que de mais conservador e preconceituoso existe na sociedade brasileira, votarem na petista. A classe média de São Paulo elegeu Jânio Quadros e Maluf prefeitos, votou em Fernando Henrique e Alckmin para presidente, lê Veja, Folha e Estadão, vê a TV Globo, ouve as rádios CBN, Band e Jovem Pan e cultua a Daslu como seu maior objeto de consumo. É um caso perdido para qualquer candidato que se diga de esquerda, seja qual for.

Futuro imprevisível
A onda continuísta varreu o país. As pessoas votaram pela manutenção do status quo. Mas, e se a situação econômica, hoje tão favorável, mudar por causa desta terrível crise financeira global? E se os catastrofistas de plantão, que torcem desesperadamente para que tudo piore, vencerem? 2010 está aí e, na verdade, até lá tudo pode acontecer.

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