A crônica abaixo foi escrita em janeiro de 2012. Refletia um sentimento que ainda é forte em mim, de surpresa pela virada ideológica de algumas pessoas que conheci ao longo das minhas mais de 6 décadas de vida.
Como escrevi há quatro anos, cada um é dono de seu nariz, faz o que bem entende, pensa como quer.
Mas que é difícil entender como um palmeirense se transforma no mais fanático corintiano, ah, isso é.
A crônica, confesso, escrevi com dor no coração e uma pitada de nostalgia por lembrar de tantos colegas e amigos do passado - esse passado que nos ensina tantas coisas.
A seguir, a sua íntegra:
Esquerda, direita, uma coisa ou outra
Um velho amigo meu, camarada dos mais íntegros que conheço, até outro dia atrás era dos mais entusiastas admiradores do PT, partido que, inclusive, ajudou a fundar. Hoje, se alguém falar na sua frente o nome do Lula, ou da Dilma, ou de qualquer um dos próceres da agremiação, é capaz de ele ter um troço: fica vermelho, quase espuma de ódio, atribui ao partido todos os males do mundo e o contempla com um variado - e vasto - repertório de palavrões.
Conheço um outro sujeito, não exatamente um amigo, mas com quem trabalhei mais de uma vez em circunstâncias diversas, que, embora sempre tivesse passado a todos a impressão de que era o mais polido de todos os sociais-democratas do mundo, anda escrevendo nos twitters da vida coisas que fazem corar até mesmo quem se educou vendo comunistas embaixo da cama. Embarcou na onda dessa turma que não sabe formar uma frase sem ofender quem quer que seja que tenha alguma simpatia pelo PT.
Antes de passar ao tópico seguinte, quero dizer que já fui filiado ao PT, cheguei a presidir o diretório municipal de Jundiaí, até saí candidato a vereador em 1982, conseguindo fantásticos 600 e tantos votos. Hoje nem filiado sou mais, estou distante dos embates ideológicos - alô, alô, Mané Melato e os bravos rapazes da Convergência Socialista, que tanto me espinafravam! -, mas nem por isso deixei de torcer para que o PT chegasse ao poder. E ainda acho que, apesar de tudo, ele é a única alternativa para transformar o Brasil num país melhor. Infelizmente.
Confesso ainda que não acho que o PT seja socialista: quando muito, não passa de um partido social-democrata, que está fazendo umas reforminhas nas monstruosidades mais explícitas do capitalismo selvagem de nossa sociedade, olhando um pouco para os miseráveis, promovendo um tantinho de Justiça social, ampliando o mercado consumidor, ou seja, o mínimo que se pode esperar de quem se diz de esquerda.
Quero agora retornar ao meu estimado amigo e ao ex-colega de trabalho, os dois que têm brotoejas à simples menção do PT: não julgo, nem condeno, nem discuto com quem muda de opinião, mesmo que tão radicalmente. Cada um é dono de seu nariz.
Certa feita, ouvi no Estadão um repórter justificar assim, curto e grosso, ao seu editor, o fato de que a matéria que escreveu era completamente diferente da pauta original: "A coisa é evolutiva", disse na maior cara dura.
De meu pai, o saudoso capitão Accioly, guardei uma sentença que se mostrou verdadeira com o passar dos anos: segundo ele, quando envelhece, a pessoa ou fica mais radical em suas convicções revolucionárias da juventude ou se transforma num reacionário empedernido.
Meu amigo e meu ex-colega de trabalho viraram uma coisa.
Eu virei outra.
E a vida segue, cada qual de nós lutando pelas suas ideias, brigando com os seus fantasmas, se fartando de tantas e tão vãs certezas.
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