Volta à adolescência
A moça do caixa do supermercado pergunta se quero a nota fiscal paulista. Respondo que sim, digo o meu CPF, e ela, ao notar que a minha compra era uma cerveja e um vinho pede um documento com a minha identidade.
Sinto-me entre ridículo e lisonjeado: ridículo por recordar meus tempos de adolescente, quando tinha de falsificar a caderneta escolar para ver "A Primeira Noite de um Homem", e lisonjeado por ela suspeitar que, por trás de meus 62 anos, minha calvície e minha barba quase toda branca, estava aquele moleque magricela que vomitou as tripas em seu quarto depois de tomar sei lá quantos copos de um garrafão de vinho com os amigos, também frangotes de 14, 15 anos, na Cantina Jundiaiense.
Mais tarde cai a ficha: a moça estava apenas cumprindo uma ordem ridícula de um gerente preocupado em cumprir a lei - uma lei que alguns cumprem apenas no Carnaval.
Teje preso
Cedo, lá pelas 9h30, na entrada da cidade, duas viaturas, uma da Polícia Militar e outra da Guarda Municipal, trabalhavam naquilo comumente chamado de "blitz", uma operação para averiguar os documentos de motoristas e dos veículos. Um dos guardinhas, o mais gordo de todos, visivelmente fora de qualquer condição física, empunhava uma carabina. Os outros se contentavam em ficar com uma das mãos no coldre do revólver - ou pistola - como numa cena de duelo de filme de faroeste.
À tarde, lá pelas 17 horas, na rua principal completamente lotada de carros e pessoas, PMs e guardas municipais abordavam alguns adolescentes - os obrigavam a pôr as mãos atrás da cabeça e a ficar encostados na parede, e os revistavam, observados por um guardinha segurando um enorme cão pastor alemão que latia estridente e ameaçava atacar os moleques.
Fiquei pensando: um bom meio de saber o grau de civilização de um país é observar como age a sua polícia.
Samba politizado
O som da voz e violão ecoa por boa parte da praça onde fica o miniférico. O artista se apresenta num pequeno coreto. Termina a música, agradece os poucos aplausos, e começa um pout pourri de sambas.
De repente, talvez empolgado pela oportunidade de dar o seu recado, se esquece que é Carnaval e improvisa um verso ofensivo à presidenta Dilma.
Vou embora, mas me arrependo em seguida: deveria ter informado a ele que o autor daqueles sambas que cantava e onde enfiou, de contrabando, a ofensa, é um comunista chamado Martinho da Vila, que acha que Lula foi o melhor presidente que o Brasil já teve e sonha em fazer um samba-enredo sobre ele para a sua amada Vila Isabel.
Sorte. Poderia ter sido o show do Lobão!
ResponderExcluirMarchinha de Carnaval pra aporrinhar os trolls: Ô lê lê, ô lá lá, o pig vai feder e o Lula vai voltar. Skidun, skidun. Ô lê lê....
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