terça-feira, 24 de novembro de 2015

Classe média explora o trabalho de uma ralé, diz sociólogo

Jessé Souza: "Quase nunca no Brasil o
Estado foi posto a serviço da maioria"
O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, sociólogo Jessé Souza, deu, nos últimos dias, importantes declarações em entrevistas variadas, que ajudam a entender o momento político e social do país. 

Uma das mais contundentes foi dada para o "El País", edição eletrônica. Em uma das respostas, ele pegou pesado: "A classe média, que se põe como campeã da moralidade, no fundo explora o trabalho de uma ralé, de uma classe de excluídos, que presta todo tipo de serviço a ela — serviços que nem as classes médias europeia ou norte-americana têm. É um exército de escravos, no fundo, para prestar, a baixo custo, serviço na sua casa, cortar a sua grama, fazer comida, cuidar do seu filho. Isso é uma luta de classes. A luta de classes é silenciosa, por recursos escassos. Todos recursos, materiais e ideais, são escassos. Não é só a casa, o carro, a mercadoria, mas o reconhecimento, o prestígio, a beleza, o charme. Isso tudo é escasso. Há uma luta de todos contra todos em relação a isso, mas algumas classes monopolizam o acesso a esses recursos: o 1% e seu sócio menor, que é uma classe média de 20%, que monopoliza o capital cultural e tem um estilo de vida europeu em um país como o Brasil. O restante tem de lutar por isso."


No dia 19, quinta-feira, no programa "Diálogos com Mario Sergio Conti", no GloboNews, Jessé abordou o mesmo tema, ao dizer que o Brasil vive um novo momento de inflexão, uma "esquina", como ocorreu no golpe de 1964. 

Naquela ocasião, segundo o sociólogo, decidiu-se governar para apenas 20% da população. Agora, disse, "temos a chance de manter a ascensão social de parcelas da população tradicionalmente esquecidas". Segundo explicou, "não montamos uma nova classe média, mas foi possível operar uma ascensão significativa, uma inclusão desses excluídos no mercado econômico competitivo, na vida cultural, no consumo". Para ele, o Brasil corre o risco de voltar a ser "uma sociedade dos 20% e, com isso, "a gente perde o que foi conquistado".

Dias antes, na segunda-feira, 16, em entrevista para o programa "Brasilianas.org", apresentado pelo jornalista Luis Nassif no canal TV Brasil, o presidente do Ipea criticou concepções equivocadas sobre o povo brasileiro que foram disseminadas e replicadas por sociólogos como Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro e Fernando Henrique Cardoso. 

E também falou sobre a situação atual do país, argumentando que “houve uma modernização do golpe de Estado”, tornado jurídico, "e que a elite brasileira quer mandar sem ter voto". Jessé tratou de temas que estão em seu novo livro, "A Tolice da Inteligência Brasileira", que será lançado neste mês.

Em outra entrevista, para a revista "Carta Capital" nº 876, Jessé afirmou que, embora não se veja dessa forma, a classe média brasileira é privilegiada por possuir “uma herança invisível, como estímulos emocionais e a capacidade de concentração, algo que os pobres não têm”. 

No jornal "O Globo", de domingo, dia 15, Jessé criticou a ideia de que o brasileiro é definido por desonestidade e corrupção, enquanto outras sociedades são vistas como perfeitas. 

Mencionou também a falsa dicotomia do mercado “como o reino de todas as virtudes” e o Estado como o oposto disso, ineficiente. “Quase nunca no Brasil o Estado foi posto a serviço da maioria. Eu me lembro de dois momentos históricos, no governo de Getúlio Vargas e no período Lula-Dilma, quando os recursos foram usados também para promover a ascensão das classes populares”, disse.

Um comentário:

  1. Finalmente um Sociólogo falando coisa com coisa. Será êsse o único Sociólogo no Brasil?Precisamos formar mais profissionais como
    o Jessé. Só se resolve problema, com diagnóstico realista.

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