sábado, 26 de setembro de 2015

Estranha crise, que não incomoda os empresários

A crise está tão brava, mas tão brava, que não se vê nenhum empresário adotar uma ação sequer para melhorar os seus negócios, fora a ida aos almoços promovidos pelo inefável João Dólar Jr., ops, João Dória Jr., esse pequeno grande e intimorato defensor do que se convencionou chamar de  "livre iniciativa".

Onde estão as megaliquidações para desovar os incontáveis estoques encalhados?

Ou os superfeirões de carros, a "preços de fábrica", para limpar os pátios abarrotados das montadoras?

Ou os encontros de lideranças para discutir uma estratégia conjunta?

Acho tudo isso muito estranho.

Suspeito enormemente de uma crise na qual só o governo - o federal, é claro - tem de tomar medidas fortes para superá-la.

Se a minha casa estivesse pegando fogo, não esperaria, de braços cruzados, os bombeiros chegarem, mas sim faria de tudo para tentar apagar o incêndio antes de ouvir as sirenes dos caminhões.

A passividade com que se comportam os nossos digníssimos empresários revela, basicamente, duas coisas:

1) Que eles não estão sentindo tanto na pele a tal crise alardeada diariamente pelos meios de comunicação;

2) Que eles se uniram à oposição golpista no sentido de ampliar o sentimento de que tudo está muito ruim no país por culpa única e exclusiva do governo federal.

O empresário brasileiro é um tipo estranho.

Quer que o governo federal corte gastos "na carne", reduza os impostos, conceda todo tipo de subsídios ao "empreendedorismo", e promova uma administração impecável sob todos os aspectos.

Quanto a si próprio, porém, não é tão exigente, pois apenas consegue prosperar num ambiente de pouca ou nenhum concorrência, sem investir em inovação ou na promoção de seus recursos humanos, apelando, na maioria das vezes, a expedientes fora da lei para manter sua lucratividade.

Se o Brasil está nessa crise tão profunda quanto nos fazem crer, seria de extrema importância, para vencê-la, a ajuda dos nossos patrióticos empresários.

Eles poderiam, por exemplo, deixar de sonegar impostos.

Afinal, dessa forma, não só estariam contribuindo para melhorar as contas públicas como deixariam de ser criminosos.

Basta a gente dar uma olhada no "Sonegômetro" mantido pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional, para se ter uma ideia do quanto os frequentadores dos almoços promovidos por João Dólar Jr., ops, João Dória Jr., são nocivos ao país: neste ano, até agora, eles embolsaram cerca de R$ 480 bilhões (!) em impostos.

É pouco?

É, simplesmente, o equivalente a 17 milhões de carros populares, 8 milhões de postos policiais equipados, 11 milhões de casas populares, 4,7 milhões de ambulâncias, 2,7 milhões de ônibus escolares, 12 mil presídios de segurança máxima, 1 bilhão de cestas básicas, 13 milhões de postos de saúde equipados...

Alguém ainda tem dúvida sobre o por quê o Brasil não é uma Suécia?

2 comentários:

  1. Não tenho nem saido de casa com medo da crise. Confesso porem, que sou um cagão nato. Tenho medo de vampiro, de besouro e até de lagarticha na parede. Grato por me animar um pouco.

    ResponderExcluir
  2. Sonegação fiscal da casa de 600/700 bi por ano ... e Skaf reclamando de carga fiscal? Quem mais sonega são os grandes empresários ricos, em geral. Quem é pequeno, quando é intimado pela Receita parcela, sempre que pode, e paga. E o Rock In Rio lotado, com 1000 PMs à disposição ... crise?

    ResponderExcluir