segunda-feira, 20 de julho de 2015

A crise, real, no tempo do professor Bonilha

Lá pelo ano de mil novecentos e nada, quando Jundiaí era uma pacata cidade do interior paulista, a meninada que concluía o que se chamava então de curso primário, tinha duas opções se quisesse continuar os estudos: fazer o ginasial e, posteriormente, o colegial, correspondentes ao segundo grau de hoje, em escola pública ou particular. 

A diferença, brutal, dos dias atuais é que, naquele tempo, a escola pública era muito melhor que a particular. 

E Jundiaí tinha apenas três escolas públicas que mantinham o segundo grau: Ana Pinto Duarte Paes, Geva (Ginásio Estadual da Vila Arens) e Instituto de Educação Experimental Jundiaí.

Entrar num desses três colégios não era fácil.

Assim, quem quisesse ter o privilégio de estudar numa boa escola tinha de fazer um exame de admissão.

E havia uma concorrência enorme.

Uma das saídas para ir bem nesse "vestibulinho" eram as aulas de reforço, uma espécie de "cursinho", concomitantemente ao ano final do primário.

O bambambã nessa área se chamava José Flávio Martins Bonilha, o temido professor Bonilha, que fazia a molecada surar frio com as aulas que dava em sua casa.

O método do professor Bonilha para fazer entrar na cabeça dos guris o conhecimento  necessário para passar no exame de admissão não tinha segredo: ele obrigava a turma a decorar a matéria.

Não estranho, por isso, que até hoje tenha na ponta da língua algumas coisas que aprendi quando era um pré-adolescente.

Mas, porém, todavia, contudo, entretanto...

As famosas conjunções adversativas, por exemplo, tão usadas nestes últimos anos pela imprensa brasileira, nunca saíram de minha cabeça.

Milhares de títulos de matérias foram feitos usando uma das conjunções adversativas: "Inflação cai, mas preço do chuchu sobe", "Venda de carros bate recorde, mas preço aumenta" etc etc.

Cheguei a escrever uma croniqueta sobre isso em 2009.

Como tudo na vida, porém, as conjunções adversativas saíram da moda.

Atropeladas pela guerra que a oligarquia nacional iniciou para derrotar o governo trabalhista, foram substituídas, no noticiário, pelo advérbio "apesar".

Ou melhor, pela expressão "apesar da crise".

Tudo hoje no Brasil acontece "apesar da crise", essa estranha crise que não impede que as pessoas continuem tocando normalmente suas vidas, enfrentando e superando os atropelos de sempre.

As lições de português do professor Bonilha, das quais guardo, como um tesouro, alguns fragmentos, foram passadas para mim há mais de 50 anos.

Posso ter esquecido a maior parte delas, mas minha memória ainda é boa o suficiente para lembrar que aquele país em que então vivia passava por uma crise real, provocada pelas mesmas forças que agora querem nos fazer crer que estamos no fundo do poço.

3 comentários:

  1. A coisa está bem clara. Trabalhistas sob ataque dos ladronistas juramentados. Diria Odorico.

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  2. Forças trabalhistas, ou progressistas, como é corrente nos dias de hoje, na realidade, nada têm de trabalhistas ou progressistas. Não pela seriedade da ideologia que representa, quando isso acontece, é claro. O que fere esse'
    'trabalhismo' e o poder que o representa há mais de 10 anos, e que nenhuma identificação tem com esse tal de 'trabalhismo', senão apenas o degrau de ascensão ao poder, por uma quadrilha muito bem organizada e ardilosa, ao organizar e manipular as massas, prometendo o paraíso, mas que empurrou o país para o descalabro que vivemos.
    Que me desculpe o anônimo, mas ao mencionar que o conflito é entre trabalhistas e ladronistas, eu diria que é enter ladronistas e ladronistas.
    E quanto ao Odorico Paraguaçu, convenhamos que era um velhote safado e oportunhista...

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  3. Caro colega Carlos Motta, a sua comparação de crise real há mais de 50 anos com a de hoje me parece um tanto irrisória, sem embasamento histórico, por um só motivo, naquela época vivíamos o período da Ditadura Militar no Brasil, que perdurou de 1964 até 1985, de forças autoritárias e nacionalistas, e hoje o regime é Democrático, com outro caráter de forças sociais e políticas, o que nos faz crer, de fato, que "o buraco" é mais embaixo.

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