Há pouco tempo, todos se lembram, muita gente exibiu cartazes nas ruas pedindo "padrão Fifa" para a educação, a saúde, o pãozinho francês...
A Fifa parecia, para essa gente, o suprassumo da eficiência, a maior garantia de qualidade para qualquer coisa, isso porque a manda-chuva do futebol mundial estabelece, para os estádios em que se joga a Copa do Mundo, padrões mínimos de conforto, segurança e infraestrutura de comunicações.
Pois bem, hoje, o que era apenas uma desconfiança para muitos, se torna quase uma certeza - o tal "padrão Fifa" não passa de um conjunto de maracutaias, crimes fiscais, corrupção da grossa, coisa típica de gângsteres dos filmes hollywoodianos.
Qualquer um que um dia frequentou ou teve contato com o mundo do futebol sabe como fede o seu subterrâneo.
Anos atrás, no Estadão, quando editava o finado Caderno de Esportes, levávamos jogadores, cartolas e treinadores para almoçar no restaurante da diretoria, para um bate-papo informal.
Numa dessas ocasiões, um dos técnicos mais badalados daquele momento afirmou, claro que em off, ou seja, para não ser publicado, que todo treinador brasileiro levava grana na contratação dos "reforços" para seu time.
Todos, disse - inclusive ele próprio.
Foi a partir dessa e de outras revelações de personagens do mundo futebolístico que qualquer ilusão que tinha sobre a honestidade desse esporte foi para o ralo.
Aquilo que poderia parecer, antes do terremoto que abala a Fifa, uma simples teoria da conspiração - árbitros "arranjando" resultados, jogadores e até sedes de torneios importantes comprados - passou a ser uma realidade palpável, algo perfeitamente crível.
O tema futebol é apaixonante - e inesgotável.
Mas uma historinha, dos tempos do saudoso jornal "Jundiaí Hoje", pode resumir o que é esse mundo do futebol.
Ela foi contada pelo seu protagonista, o "dono" de um time da cidade, que chegou a disputar competições profissionais.
Se não me engano - lá se vão uns 30 anos - essa figura se chamava Eliezer e o time, Jundiaí Futebol Clube ou algo do gênero.
Pois bem.
Esse Eliezer ia com frequência à redação do jornal, levar as notícias de seu time, que geralmente perdia - disputava uma das divisões inferiores do campeonato paulista, em estádios de clubes amadores de Jundiaí.
Num belo dia, ele estava inspirado.
Para provocá-lo, perguntamos como era possível que um clube sem sede própria, sem torcida, sem estádio, podia estar jogando num campeonato promovido pela Federação Paulista de Futebol.
- Vou contar para vocês - disse. O mais difícil é conseguir a liberação do estádio. Pois bem, no dia em que o cara da federação veio fazer a vistoria, fiz questão de recebê-lo. Fomos então almoçar, e aí eu o enchi de vinho. Ele bebeu um bocado. Foi uma festa. Saiu do restaurante tropeçando. Aí, o levei para o estádio do Paulista e ele achou lindo o lugar.
O Paulista, para quem não sabe, é um dos clubes de futebol mais tradicionais do Estado de São Paulo e até já ganhou uma Copa do Brasil.
O time do Eliezer não existe, pelo que sei, há muitos anos.
E até hoje não sei quanto do que ele falava era verdade, quanto era mentira.
Mas ele chegou até a confessar que vender jogos era coisa corriqueira.
E assim, ele sobrevivia - lembro muito bem de um Fusca que ficou exposto um tempão na praça Governador Pedro de Toledo, prêmio de uma rifa que nunca saía...
É, o Jundiaí FC pode não mais entrar nos campos esburacados do interior paulista, mas a maneira como ele era administrado ainda deve ser a regra de muitos outros clubes brasileiros.
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