quinta-feira, 21 de maio de 2015

Censura, autocensura e o vale-tudo da imprensa

"Acordos entre Brasil e China afetam só 4 setores", dizia o título na homepage do UOL. 

Achei estranho, já que pensava que os entendimentos entre os dois governos eram uma notícia positiva. Curioso, fui ler o texto todo e, como imaginava, o redator da capa do UOL havia cometido um erro grosseiro, ao atribuir ao verbo afetar o sentido de causar efeito.

Ou seja, parecia que ele não tinha a menor ideia do que estava escrevendo.

Para tirar qualquer dúvida que restasse, recorri ao Caldas Aulete.
E ele esclareceu a questão:

afetar
(a.fe.tar)
v.
1. Suscitar ou ser capaz de suscitar sentimento, emoção, comoção; ABALAR; COMOVER [td. : A fome na África afeta todo o mundo.: A morte do pai afetou -o profundamente]
2. Causar dano ou doença a; perturbar (as funções orgânicas) [td. : O excesso de sol pode afetar a pele.: O ar da noite afeta -o muito.]
3. Ser do interesse de; dizer respeito a; concernir a [td. : Como o assunto não o afetava, preferiu
não opinar.: As questões ecológicas afetam todos nós]
4. Exibir ou tentar exibir (qualidades, maneiras, sentimentos etc.) que não se possui; APARENTAR; FINGIR; SIMULAR [td. : Afetou desinteresse para não acirrar a disputa.] [tp. + de : Afeta (-se) de estudioso para impressionar o mestre.]
5. Fazer (algo) com apuro exagerado, esmerar-se a ponto de parecer ridículo [tr. + em : Afeta -se na pronúncia das palavras.]
6. Simular ou assemelhar-se à forma de [td. : Recortou ornatos que afetavam estrelas]
[F.: Do lat. affectare. Hom./Par.: afeto (fl.), afeto (a.sm).

Errar é humano, diz o senso popular.

Quando, porém, a gente tenta aplicar essa máxima ao jornalismo brasileiro, percebe que ela não tem muito sentido, já que os erros são tantos e cometidos com um só propósito - desqualificar, diminuir, prejudicar e até mesmo criminalizar o governo federal.

Comecei no jornalismo no início da década de 70, fazendo revisão e reportagens para o Jornal da Cidade, ainda enquanto estudante do Instituto de Educação Experimental Jundiaí, em plena ditadura militar.

Por incrível que possa parecer, naquele tempo, pelo menos nas redações pequenas em que trabalhei - o extinto Diário de Jundiaí, o Jornal de Jundiaí, o Jornal de Domingo, de Campinas, o falecido Jundiaí Hoje - a censura não era tão sentida.

E a explicação para um fato tão extraordinário, já que os órgãos de imprensa eram severamente controlados pelo aparelho governamental, é muito simples: os donos dos jornais e os próprios jornalistas, pelo menos aqueles com função de mando, se autocensuravam.

Dessa forma evitavam qualquer problema que pudesse surgir.

Estavam a favor da ditadura - e ponto final.

Antes de mais nada, pensavam em sua sobrevivência.

Os militares voltaram aos quartéis, a censura acabou, mas não a autocensura, que continuou de outra forma - a partir daí, foram poucos os jornalistas que ousaram contrariar as ordens dos patrões, escrever algo que contrariasse os interesses da empresa, mesmo que tal notícia fosse importante para a sociedade.

O erro cometido pelo redator do UOL, que transformou, com a simples aplicação de um verbo, uma notícia positiva em algo negativo, não foi, na verdade, um simples engano: hoje em dia brigar contra os fatos, distorcê-los à vontade, contrariar a realidade, são práticas comuns de nossa imprensa.

Vale tudo nessa guerra cotidiana contra os trabalhistas: até mesmo estuprar a língua portuguesa.

3 comentários:

  1. Motta, esperar o que dessa merda de panfleto pré falimentar?

    ResponderExcluir
  2. Diz o Chines da pastelaria em baixo do meu predio, que a imprensa do Brasil só tem ㅊㅎㅈ탦ㅂㄹ허ㅐㅊㅎㅎㅎㅎㅊㅊ. Caramba! Como xinga!

    ResponderExcluir
  3. "Acordos entre China e Brasil têm efeito prático em apenas 4 setores". Motta eles estão lendo o teu Blog.....mudaram o título.

    ResponderExcluir