terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Derek, um sopro de vida na TV

Ver televisão há muito deixou de ser um hábito para mim.
Não assino TV fechada, só assisto à aberta quando alguma emissora se lembra de passar um jogo do Palmeiras.
A internet substituiu, com imensa vantagem, a TV.
O Youtube é um tesouro com maravilhas inesgotáveis.
E mesmo o Netflix, que relutantemente comecei a experimentar outro dia desses, tem muita coisa interessante.
Foi nele, por exemplo, que conheci uma série da BBC chamada "Derek", produzida, escrita, interpretada e dirigida por Rick Gervais, o cara responsável por The Office, sitcom que inovou a linguagem do gênero, mostrando os episódios como se fossem uma espécie de reality show ou documentário sobre o dia a dia num escritório de uma empresa, com todos os seus tipos engraçados, patéticos ou simplesmente comuns. 
O Office original, inglês, ao que saiba, não passou na televisão brasileira, que preferiu exibir o irmão gêmeo americano, também muito bom.
Derek segue o formato de falso documentário, dessa vez ambientado num asilo para idosos. O personagem título é funcionário do local, um cuidador cinquentão com cérebro de criança, que só pensa em fazer o bem.
Ele divide o protagonismo com a também bondosa chefe, o pragmático faz-tudo e um amigo completamente desmiolado.
Esse núcleo sustenta os episódios, tendo como coadjuvantes os velhinhos que moram no asilo. 
Quase não há história, mas isso é o que menos importa.
Gervais consegue, em pouco mais de 20 minutos, transmitir uma carga emocional que raríssimos filmes de longa metragem são capazes.
A dosagem entre comédia e drama é perfeita.
A vida pulsa intensa em cada segundo, com toda a sua complexidade.
A impressão é de que Derek, seus companheiros, os velhinhos, os cenários, tudo, enfim, fazem parte da realidade, não são apenas um sitcom.
Antes de Derek, apenas um seriado havia me levado a crer que a televisão pudesse abrigar a genialidade.
Seinfeld, a série sobre o nada, foi revolucionária, quebrou padrões, elevou a comédia a um outro status.
Derek, ao desprezar a pieguice e trocá-la pela sinceridade, estabelece um novo padrão para programas do gênero.
Depois dele, será difícil justificar tanta violência, clichês, efeitos especiais, imbecilidades em geral - tudo aquilo que a televisão oferece, dia e noite, ano após ano, ao público.

2 comentários:

  1. Prezado Motta. Os poderosos tentam de toda forma sufocar a vida e escravizar os sobreviventes. Mas aquele la de cima, o Criador, deve dar boas rizadas e chama-los de ridiculos. Ora ora se são!

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  2. Adorei seu texto. Quero assistir também! Obrigada pela dica. E Seinfeld é realmente um marco. Vc pode rever mil vezes, não é?

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