domingo, 12 de outubro de 2014

Amigos, sim, mas sem baixarias

Vários familiares e pessoas de meu círculo de amizades, com as quais entro em contato via redes sociais, já manifestaram sua preferência por Aécio Neves nesta eleição. Houve até quem me fizesse um apelo para que votasse no candidato tucano, pois o Brasil estava ruim demais - nem empregadas se consegue contratar nos dias de hoje...
Não tenho amigos porque eles são, ideologicamente, próximos de mim. Amizade se faz por causa de empatia, ligações emocionais, afetividade. 
Um grande amigo que tive, infelizmente morto cedo demais, era um ex-petista - e acho que todos sabem o que significa isso. Mas tinha um grande coração, era divertido, criativo, de extraordinário senso prático. Discutíamos, ríamos, e nunca um quis convencer o outro de que ele não estava certo sobre tal assunto. 
Claro que, com o passar do tempo, nossos amigos mais próximos acabam sendo mesmos os que têm mais afinidade com o nosso modo de ver o mundo. Não importa se ele vota ou não no PT, gosta ou não do Lula, acha ou não o FHC um intelectual imprescindível para o entendimento da sociedade moderna.


O que importa é se essa pessoa carrega e pratica, no seu dia a dia, os mesmos valores que prezo. 
Não adianta, por exemplo, dizer que é de esquerda e tratar mal o porteiro do prédio, o garçom ou a faxineira. 
Esse nunca será meu amigo.
Também não suporto quem exala preconceito, conta piadas racistas, se vangloria de ter enganado quem quer se seja - e por aí vai.
Um parêntesis: quando era editor de Esportes do Estadão e participava da reunião para "vender" as matérias que poderiam ir para a capa, era obrigado a ouvir, praticamente todos os dias, o editor-chefe do jornal contar uma piada preconceituosa, imitando a voz de Lula, que havia acabado de se tornar presidente. Uma das mais escrotas era mais ou menos assim: Benedita da Silva havia desistido de ser ministra depois de ver o grande número de janelas de vidro do Palácio do Planalto que teria de limpar... Dá para perceber o nível daquele pessoal?
Quanto aos meus amigos, reais ou virtuais, espero conservá-los para sempre. Não será uma eleição que abalará o afeto que sinto por eles.
O único risco que eles correm de ver abalada a relação é confundirem a disputa política, legítima em nossas vidas, em ataques mentirosos à candidata que apoio, disseminarem calúnias, inventarem boatos, expressarem preconceitos e ódios - se nivelarem, enfim, ao esgoto em que as redes sociais estão se transformando.
Se fizerem isso, terão ultrapassado a linha que separa a civilização da barbárie.
E é óbvio que não quero me relacionar com gente assim.
Também espero que, se o candidato deles, para imensa infelicidade do povo brasileiro, for eleito para a Presidência, não venham reclamar ou se queixar alguns meses depois, da escolha que fizeram - acho difícil essa hipótese, a julgar o que houve com Collor, que, milagrosamente, venceu a eleição sem ninguém ter votado nele...
Essas pessoas, lamento informar, nunca ouvirão de mim uma palavra de consolo, mas sim um ditado popular que meu saudoso pai, o capitão Accioly, usava de quando em quando: "Quem pariu Mateus que o embale."

3 comentários:

  1. 'Fhc, um intelectual imprescindivel para entendimento da sociedade moderna'. Só me faltava essa. Sou mais o Tiririca!

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  2. o mesmo digo para os alkmistas. Nao aceito devoluçao, porque no caso, la garantia non soy yo..

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  3. Eu tenho amigo flamenguista, palmeirense, vascaíno e até corintiano, mas não tenho nem nunca terei amigo tucano.
    Nesse ponto penso similar a Fidelix:
    “Esses que tem esses problemas* realmente sejam atendidos no plano psicológico e afetivo, mas bem longe da gente, bem longe mesmo, que aqui não dá.”
    *desvio de caráter, egoísmo, preconceito.

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