sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A "providência divina". Lá e cá

As fotos que correm o mundo, imagens estáticas de um vídeo, não são o que aparentam.
Nelas, dois homens, um vestindo laranja, ajoelhado, outro, de preto, em pé, olham para a câmera.
O que veste laranja tem uma expressão serena; o de preto usa uma máscara.
As fotos nada revelam além de dois homens numa paisagem desértica.
Mas o vídeo é assustador, obsceno, uma afronta à dignidade humana.
A decapitação do jornalista James Foley pelos fanáticos enlouquecidos do Estado Islâmico é mais uma prova da incapacidade do ser humano de preservar a sua espécie.
Ou de incessantemente tentar aniquilá-la.
Não há dúvidas sobre o que são os militantes do EI: assassinos, nada mais, nada menos.
Não há dúvidas também sobre os motivos que levaram esses homens a tal estado de barbárie: ignorância, nada mais, nada menos.
Mas ignorância causada por essa desgraça chamada religião.

Um homem inocente de qualquer crime é decapitado em frente a uma câmera - em nome de deus, um deus entre inúmeros outros.
A milhares de quilômetros de distância do local desse crime, o presidente dos Estados Unidos, a nação mais poderosa do planeta, lamenta a morte de seu conterrâneo e diz que o EI é um "câncer".
Não revela, em seu discurso, porém, que esses assassinos se tornaram fortes a ponto de conquistar enormes porções do Iraque e da Síria graças ao armamento sofisticado "made in USA" que ganharam dos americanos para derrubar Bashar Al Assad e dos xeques petrolíferos inimigos dos muçulmanos xiitas - por sua vez, parceiros de Barack Obama.
"Cria cuervos y te sacarán los ojos"...
Aqui no Brasil a violência que se vive é também repugnante e aparentemente incontrolável.
O país não enfrenta nenhuma guerra, nenhuma revolução, mas nele também são cometidos diariamente assassinatos tão ou mais brutais quanto esse do EI. A violência é um dos traços mais marcantes do brasileiro e ela é encampada tanto pelos que agem fora das leis quanto pelos que, supostamente, deveriam ser os seus guardiães.
A polícia brasileira é uma das mais brutais do mundo, a tortura ainda é prática habitual nas delegacias, a atuação dos nossos policiais equivale à dos mais sádicos criminosos, a Justiça é um poder praticamente sem mecanismos de controle.
A corrupção, uma outra forma de violência, é moeda corrente em todas as esferas da sociedade.
E, na política, que deveria ser a mais importante manifestação social, a atividade capaz de regular e disciplinar a vontade dos cidadãos, dando um sentido ao desejo de progresso e bem-estar para toda a nação, o que se vê é a mesquinharia se sobrepujar a qualquer outro valor ou sentimento.
Mesquinharia que beira o cinismo.
E que aflora em plena campanha eleitoral, ao ponto de a candidata à vice-presidência do PSB afirmar que foi a "providência divina" que não quis que ela estivesse no avião que se estatelou no chão, matando, entre vários outros, o candidato presidencial do partido.
A "providência divina", como se depreende da declaração da agora candidata presidencial, foi capaz de matar sete pessoas num acidente aeronáutico.
Será que é a mesma "providência divina" que guia as mãos dos loucos assassinos do EI na direção dos hediondos crimes que cometem?  


2 comentários:

  1. É nisso que deu o plano capitalista de transformar o homem em mero boneco consumista. Sem trocadilho, agora ta ficando russo.

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  2. O mundo inteiro lamenta a morte do jornalista americano, mas se calam diante das atrocidades dos estado Unidos pelo mundo. Como no Vietnam, Iraque e Afeganistão. E ainda pousam de vítimas. Os americanos vivem de mentiras, que o mundo ingole por verdade. Veja o que os americanos fizeram com a Argentina. Em parte lula nos livrou desse câncer chamado estado unido, que só se alimenta da miséria aleia.

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