quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Adeus às redações


O novo dono da rede Bom Dia de jornais, a Cereja Comunicação Digital, fez algo que os jornalões, se tivessem um mínimo de criatividade e ousadia, teriam feito há muito tempo: acabou com as redações físicas nas cidades de Sorocaba, Jundiaí, Bauru, São José do Rio Preto e ABCD. Dessa forma os repórteres trabalham em casa, com computadores da empresa, e o fechamento (edição) é feito em São Paulo, onde ficam os editores, diagramadores e tratadores de fotos.
Como todo mundo sabe, as empresas jornalísticas de formato tradicional, essas que ainda usam o papel como suporte de suas publicações, estão numa crise danada em todo o mundo - e no Brasil, então, nem se fala.
Este foi um ano terrível para os jornalistas. Umas duas centenas deles foram demitidos só na cidade de São Paulo. 

Os patrões são impiedosos: basta o lucro cair para eles invocarem a figura implacável do passaralho, que tem se mostrado mais faminto a cada voo que realiza em busca de vítimas.
Acho que faz mais de dez anos que venho pensando em como os jornalões poderiam reduzir seus custos e ser mais eficientes se adotassem o novo sistema da Rede Bom Dia.
A Folha até que fez a experiência, muito tempo atrás, timidamente, colocando um ou outro repórter para trabalhar em casa.
Mas então a informática não estava tão avançada como hoje e a experiência acabou não dando em nada.
Fico só imaginando se a Folha tivesse persistido na inovação.
Iria ser, obviamente, imitada por todos os "co-irmãos" e a situação dos jornalistas poderia ser muito diferente de hoje.
O último jornal em que trabalhei aluga quatro andares de um condomínio empresarial num bairro mais ou menos central de São Paulo.
O trânsito na região é infernal, a estação de metrô mais próxima fica a 1 km de distância, os estacionamentos são raros e caros, os casos de roubos e assaltos são frequentes.
Com o sistema da rede Bom Dia, os quatro andares poderiam ser reduzidos para um, tranquilamente.
A redação, que hoje conta com mais de 100 pessoas, funcionaria, eficientemente, com umas 20, no máximo.
A qualidade do trabalho seria a mesma, ou até melhor.
O que a empresa economizaria seria suficiente para impedir as cerca de 50 demissões ocorridas no meio do ano.
Acho que daria até para contratar mais gente - ou pagar melhor os funcionários.
Em vez disso, eles insistem, em plena era dominada completamente pela informática, naqueles métodos dos anos 60, 70, com um agravante: antigamente, pelo menos, os repórteres saíam para fazer as suas matérias, entrevistavam suas fontes pessoalmente, sentiam o clima da cidade. Hoje, nem saem da redação, fazem quase todo o trabalho por telefone, pois, afinal, gastariam horas e horas só para ir ao encontro dos entrevistados.
A verdade é que os jornalões não conseguiram ainda entender que os tempos mudaram completamente e exigem soluções muito mais criativas que cortar a folha salarial para resolver seus problemas.
Eles ainda estão tentando entender o século XX.
E dificilmente vão entrar no século XXI.



2 comentários:

  1. Isso mesmo, lembro que o tradutor Zamarian trabalha num sítio em Mocóca...
    Fico imaginando quem teve a ideia de jerico em construir aquele sarcófago la na Marginal, é muita falta de visão; e esse outro monstrengo na Barão? cheio de labirintos, se não pedir ajuda não consegue sair do coiso!!!
    Essa Cereja vai dar o que falar!

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  2. Grande Motta,

    Excelentes reflexões. Se me permite, segue uma breve crônica minha sobre o futuro do jornalismo:

    http://www.blogdojorge.com.br/2013/06/jornalismo-ano-2035.html

    Abraço e sucesso!

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