A carga tributária do Brasil, em % do PIB (34%), em verde: menor que a média dos países da OCDE, Alemanha, Inglaterra, Israel, Portugal, Hungria, França, Itália e Suécia (do site Brasil- Fatos e Dados) |
A reação mezzo histérica, mezzo hipócrita, de setores empresariais e das classes média/média-alta/alta paulistanas ao reajuste - perfeitamente legal e nada abusivo - da planta genérica de valores, que serve de base para o cálculo do IPTU, reacende uma velha discussão, sobre a carga tributária brasileira, que alguns, por ignorância ou má-fé, insistem em dizer que é a maior do mundo.
Vamos, então, imaginar por uns instantes como seria viver nesse paraíso apregoado pelos neoliberais, essa turma que exalta o tal livre mercado e, especialmente, o "Estado mínimo", no qual as pessoas e as empresas pagariam bem menos impostos e a máquina administrativa seria reduzida a proporções ínfimas.
Suponhamos que você seja um típico classe média com um par de filhos.
Num primeiro momento os preços das mercadorias, pagando muito menos tributos, cairiam pelo menos à metade.
O mesmo ocorreria com muitos serviços.
Você, sua mulher e seu filho exultariam de alegria e passariam a consumir mais, a gastar mais em coisas que antigamente estavam fora de seu alcance.
Você e milhões iguais a você fariam isso.
Quanto tempo demoraria para os preços subirem ao nível anterior, ou mesmo, seguindo as tais "leis do mercado" e, principalmente, a da "oferta e da procura", passarem a ser maiores que antes?
Alguns meses apenas.
Aí, você já não estaria tão feliz da vida como estava quando a turma do Estado mínimo assumiu o controle da nação, impondo a ela as suas brilhantes ideias econômicas e sociais.
E não demoraria quase nada para ficar p da vida quando anunciassem que, daí em diante, teria de pagar um plano privado de previdência, porque a oficial teria ido para a cucuia, quando visse a conta do hospital para onde correu quando o seu filho ardia em febre ou quando recebesse um aviso da escola em que o menino e a menina estudam de que a matrícula e as mensalidades iriam dobrar de preço.
Nesse ponto, aturdido com a rapidez em que a sua vida corria em direção ao buraco, restaria a você pedir um aumento.
Mas você não faria isso, porque já saberia que de nada adiantaria chorar suas mágoas ao seu chefe, que, é quase certo, lhe diria o seguinte:
- Não está contente com o seu salário? Ora, se demita. Há uma fila de gente querendo o seu lugar.
Aí você voltaria para casa com o rabo entre as pernas, murchinho, envergonhado.
E de ônibus, porque o combustível estaria custando tanto quanto um uísque 12 anos antes do paraíso ser instituído.
E a passagem não custaria aquela miséria de antes, quando era subsidiada pela Prefeitura - sem contar que o subsídio ao diesel também já seria coisa do passado.
Chegando em casa, arrasado, perdido, deprimido, você comeria um arroz com feijão sem gosto - afinal, a empregada que cozinhava, e bem, foi despedida -, uma carne de segunda, dura como uma sola de sapato, e ligaria a televisão para esquecer um pouco de sua vida desgraçada nesse paraíso neoliberal.
Para seu azar, a formidável coalização de tucanos, demistas, socialistas e sonháticos que havia defenestrado do Palácio do Planalto a súcia lulodilmistapetista estaria, em rede nacional, anunciando novas e formidáveis medidas para enfraquecer ainda mais o Estado, privatizar aquele mínimo que ainda restava, entregando o Banco do Brasil para o Itaú e a Petrobras para a Chevron, e acabando com o Bolsa Família, porque, afinal, o importante não é comer o peixe, mas ensinar o desgraçado do pobre famélico a pescar - além disso, os bilhões gastos nesses programas sociais inúteis poderiam servir para aumentar o superávit primário.
E depois apareceria o William Bonner.
E você não veria nem escutaria nada o que ele disse até ele se despedir com o indefectível "boa noite", porque estaria fazendo contas para ter certeza de que haveria, pelo menos, o dia de amanhã.
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