quinta-feira, 30 de maio de 2013

Para suíços, Polônia é mais competitiva que Brasil


O site da BBC traz a notícia de que um relatório divulgado nesta semana por "um dos mais respeitados centros de ensino na Suíça" indicou que o Brasil é um dos países menos competitivos do mundo. Segundo a reportagem, de 2012 para 2013, o país caiu do 46º para o 51º lugar entre 60 nações analisadas pela escola de negócios IMD. Na comparação entre o ano passado e 2011, o Brasil já havia recuado duas posições no ranking.

O relatório, chamado IMD World Competitiveness Yearbook, analisa o gerenciamento das competências de cada país na busca por mais prosperidade. "A competitividade de uma economia não pode ser reduzida apenas a PIB e produtividade; cada país ou empresa também tem que lidar com dimensões políticas, sociais e culturais", diz o documento. "Cada nação tem que criar um ambiente que tenha a estrutura, as instituições e as políticas mais eficientes para encorajar a competitividade dos negócios." 
A notícia da BBC explica que "baseados em dados disponíveis e pesquisas próprias, o ranking avaliou o desempenho de cada país em quatro áreas: desempenho econômico, eficiência governamental, eficiência empresarial e infraestrutura" e que a liderança da lista foi ocupada pelos Estados Unidos, "que desbancaram Hong Kong e voltaram ao topo, enquanto que a Venezuela foi considerado o menos competitivo dos países pesquisados".
Segundo a notícia, o Brasil também foi um dos que mais perderam posições desde que o ranking global de competitividade, incluindo países desenvolvidos e emergentes, começou a ser compilado pelo instituto, em 1997. Naquele ano, o país ocupava a 34ª colocação entre 46 países. Entre as nações que mais ganharam posições (cinco ou mais) no ranking, estão China, Alemanha, Coreia do Sul, México, Polônia, Suécia, Suíça, Israel e Taiwan. Além do Brasil, Argentina, Grécia, Hungria, Portugal, África do Sul, entre outros, registraram as maiores quedas. 
"O Brasil deixou de fazer reformas importantes que, se postas em prática, poderiam aumentar a competitividade do país frente a outras nações do globo", afirmou à BBC o diretor do centro de competitividade mundial do IMD, Stéphane Garelli. "Além disso, o país possui uma economia mais baseada no consumo do que na produção. Como resultado, deixou de priorizar investimentos em setores em que poderia ser se tornar competitivo."
Quem lê uma notícia dessas, de uma fonte respeitada como a BBC, dificilmente vai duvidar de sua veracidade. Mas se parar para pensar só um pouco vai perceber que o tal estudo da tal escola é uma tremenda bobagem: "estudos" como esse são feitos às dezenas todos os dias e têm como único objetivo fazer a publicidade gratuita de seus autores.
Eles são oferecidos, "com exclusividade", para inúmeros órgãos de imprensa em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, o assessor de imprensa da tal escola suíça, que é associada a alguma entidade daqui, liga para os jornais e oferece a pauta. Um deles inevitavelmente vai aceitá-la, "se for exclusiva".
E aí, está feita a publicidade do tal IMD.
As coisas funcionam assim no mundo corporativo - e na imprensa.
Claro que a notícia sobre o "estudo" exclui o contraditório. O repórter que a escreve vai se esquecer de perguntar aos seus autores certas coisinhas óbvias, que poderiam prejudicar os seus resultados extremamente desfavoráveis à imagem do Brasil.
Coisas como, por exemplo:
- Se o Brasil assusta tanto os investidores, como se explica o alto volume de investimentos externos diretos no país?
- Como não pode ser competitiva um país cuja economia é uma das maiores do mundo?
- Como explicar essa dicotomia entre a falta de competitividade e a estabilidade econômica do país?
- Os investidores desconhecem as últimas medidas para tornar as empresas brasileiras mais competitivas?
- Os investidores desconhecem o Programa de Aceleração do Investimento (PAC)?
- Desconhecem as obras de infraestrutura projetadas e em andamento?
- Como alguém pode preferir investir em mercados nanicos como Taiwan, ou Polônia, ou Israel, se têm à disposição mais de 100 milhões de consumidores no Brasil?
As perguntas que poderiam ter sido feitas a esse pessoal da Suíça são inúmeras.
Mas a imprensa, até mesmo a veneranda BBC, prefere publicar um press-release.
Dá menos trabalho.

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