sábado, 25 de maio de 2013

As nossas roupas made in China


A imprensa brasileira é tão ruim que a gente tem de ler material produzido no exterior para ficar sabendo mais ou menos o que se passa aqui no país.
O site da Deutsche Welle, o serviço de informação da Alemanha, por exemplo, sempre traz matérias interessantes sobre o Brasil.
A última delas mostra as dificuldades que o setor têxtil está enfrentando com a concorrência dos produtos asiáticos, especialmente os chineses.
Quem comprou roupa recentemente já percebeu isso. É só olhar na etiqueta para ver que aquela camisa mais barata na loja é "made in PRC", ou seja, chinesa.
E não é o comércio que está importando roupa de fora: até mesmo alguns fabricantes estão deixando de produzir para comprar os artigos de vestuário da China, muito mais baratos que os feitos aqui.
A reportagem é longa, mas merece ser lida:

Indústria brasileira de roupas 
sofre com  concorrência asiática

A invasão de importados, principalmente da China, tem prejudicado a indústria têxtil e de confecções no Brasil, que está perdendo mercado para esses produtos. Apesar do aumento de 3,4% nas vendas do segmento de vestuários em 2012, houve uma queda de 4,5% na produção têxtil no país e 10,5% na de confecções. Essa diferença entre o aumento das vendas e a diminuição na produção foi preenchida por produtos importados.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), as importações no setor em 2011 foram de US$ 6,17 bilhões. Em 2012, o valor subiu para US$ 6,59 bilhões. O cenário é preocupante, uma vez que o setor é o segundo maior empregador da indústria de transformação no país. "A expectativa é que, se as empresas não se mexerem neste ano, o mercado interno vai ser abocanhado em 30% por produtos estrangeiros", diz Daniel de Souza, professor do departamento de Ciências Econômicas da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
O deficit na balança comercial de têxteis e confecções era de US$ 235 milhões em 2006. Em 2012, ele fechou em US$ 5,3 bilhões. "Isso representa um aumento de 1.800%. O produto importado vem tomando o mercado do produto nacional, e cada vez mais rápido", ressalta Souza. 
A perda de competitividade no setor não é um problema novo e é causada pela combinação de uma série de fatores internos e externos, entre eles o real valorizado, que contribuiu para o aumento das importações, o que, por sua vez, desestimulou a indústria a renovar seu parque fabril. 
"Durante muitos anos era mais barato importar do que produzir no Brasil e isso se estendeu por longos períodos, até que a indústria não conseguiu investir em máquinas e equipamentos e, assim, não pôde trabalhar suficientemente na sua atualização tecnológica", afirma Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP. 
Outros problemas internos apontados por especialistas são a alta carga tributária do país (o que encarece o preço final das roupas), a valorização do real (o que facilita a entrada dos importados), o preço da energia elétrica (uma das mais caras do mundo), a infraestrutura ineficiente do país (que faz com que o transporte da mercadoria seja muito deficiente), a falta de mão de obra especializada e os encargos sociais elevados. 
"A evolução do quadro é triste. Nós temos uma dificuldade imensa de manter essa indústria que sempre foi uma indústria competitiva no Brasil. A dificuldade é de mantê-la viva, porque a possibilidade de competirmos em pé de igualdade já foi ultrapassada", afirma Grisi.
Os fatores externos estão relacionados à situação econômica e de produção dos países asiáticos, principalmente da China, principal concorrente no Brasil. Com a crise mundial nos maiores mercados consumidores do mundo, esses países tiveram que procurar outros mercados para sua produção e encontraram no Brasil espaço para vender seus produtos. 
A Abit considera a concorrência com a China desleal. Segundo a associação, os chineses mantêm sua moeda artificialmente desvalorizada – cerca de 30% em relação ao real –, além de possuírem cerca de 27 subsídios contestáveis na OMC e não seguirem as regras míninas trabalhistas, previdenciárias e ambientais. A associação argumenta que, se a demanda é mundial, as condições de produção deveriam ser iguais em todos os países.
A indústria nacional tem capacidade de suprir a demanda nacional, mas, para isso, algumas mudanças fundamentais são necessárias. As medidas para aumentar a competitividade da produção nacional envolvem a qualificação da mão de obra, investimentos em infraestrutura, modernização do setor e das leis trabalhistas, redução dos impostos e a queda dos juros. 
"Muitas vezes o produto é tributado duas ou três vezes durante a cadeia produtiva. Atualmente a carga tributária é em torno de 18%. Para a indústria ser competitiva, esse imposto precisava ser de no máximo 10% sobre a receita bruta", diz Souza. 
A grande maioria das importações vem da China A Abit vem organizando uma série de ações para fortalecer a indústria nacional. A associação está negociando com o governo uma reforma tributária para o setor. No ano passado, ela encaminhou um pedido de salvaguarda ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A medida visa limitar a importação de 60 produtos de confecção que correspondem a 82% do total do vestuário importado. 
"No momento, é preciso 'estancar' a hemorragia das importações para que o setor têxtil no Brasil não continue a ser depauperado, enquanto não temos uma reforma tributária. Além disso, mesmo com uma reforma, é preciso enquadrar a produção chinesa nos requisitos mínimos que o mundo adota em termos trabalhistas e de meio ambiente", afirma a associação. 
Segundo a Abit, as confecções importadas já chegam a 20% nas grandes redes de loja. "Ao olhar as etiquetas das roupas vendidas nas grandes redes varejistas, como Renner, C&A, Riachuelo e Marisa, percebe-se uma predominância de produtos chineses", diz Souza. O consumidor brasileiro não costuma verificar, antes de comprar, onde as peças são produzidas. "A cada ano que passa, os consumidores desinformados compram mais e mais produtos importados. Infelizmente não há propaganda na mídia das empresas do Brasil para inibir esses produtos importados, até porque eles ganham e lucram muito com os produtos asiáticos", afirma o Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de Blumenau, Gaspar e Indaial (Sintrafite). 
A C&A, a Hering, a Riachuelo e a Lojas Renner foram contatadas, mas não quiseram comentar o assunto.

Um comentário:

  1. Não há como competir com os chineses numa das "condições" relatadas pela reportagem........' tal da "modernização das relações trabalhistas".......
    Não dá pra reduzir nosso trabalhador às péssimas condições de lá. Mas é claro, os empresários daqui fazem esse perigosíssimo "coro".....

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