terça-feira, 16 de abril de 2013
O mal absoluto
Relatos de testemunhas de acusação no julgamento daquele que ficou conhecido como o Massacre do Carandiru, no qual, oficialmente, 111 presos foram mortos por policiais militares, em 1992, nos fazem crer que o inferno existe, sim, tanto como as legiões malditas do anjo caído.
O pior é saber que os autores daqueles crimes estiveram soltos nesses anos todos, perfeitamente ajustados à conduta da corporação a que servem, inteiramente integrados à sociedade, vivendo como se nada tivessem feito, como se neles não estivesse grudada a nódoa de uma ignomínia além de qualquer classificação.
Puní-los agora é o mínimo que se espera de um sistema judiciário cheio de lacunas.
A punição individual, porém, não é suficiente para reparar, aos olhos da humanidade, todo o mal que aquela ação covarde, sádica e desumana exala.
É preciso ir mais fundo, descobrir o que motiva tais indivíduos a agir daquela maneira, o que levou aqueles homens a ter uma visão tão deturpada do mundo e da vida.
"Deus cria, a Rota mata", gritavam, enlouquecidos, os policiais que invadiram o presídio para assassinar mais de uma centena de seres humanos.
"Tive de escalar uma pilha de cadáveres", contou uma testemunha.
"O sangue chegava à canela", disse outra.
"Eles obrigavam os que estavam vivos a carregar os mortos para fora das celas e depois os matavam também", afirmou mais uma testemunha.
É possível imaginar o horror absoluto, a mais absoluta negação dos valores, a essência do mal?
Os atos dos nazistas talvez nos respondam que sim.
À Rota falta pouco para, pelo menos, igualá-los.
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