A vez da lenda

Chávez: o senador Suplicy precisa se informar melhor
(Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Na noite de terça-feira, o senador petista Eduardo Suplicy deu uma longa entrevista à rádio Estadão, repercutindo a morte do presidente venezuelano Hugo Chávez. A certa altura, Suplicy lembrou que, numa visita ao país, foi convidado por Chávez para uma solenidade numa academia militar, tendo ficado na primeira fila da plateia e ouvido não só a menção de sua presença no local pelo próprio presidente, mas a de que ele era autor de um importante livro sobre renda mínima, que, segundo Chávez, deveria ser traduzido para o espanhol.
Suplicy ainda destacou as notáveis conquistas sociais proporcionadas pela era Chávez para a Venezuela, mas quando perguntado sobre o que esperava acontecer ao país depois da morte do líder, fez tal e qual o saudoso Sandoval Quaresma, personagem da Escolinha do Professor Raimundo interpretado por Brandão Filho: escorregou na maionese, como se diz por aí, justamente na última resposta.
"Espero que o sucessor de Chávez reveja a questão da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão no país", foi o resumo do que disse o senador - é impossível, de ouvido, repetir as longas perorações que ele faz sobre qualquer tema...
Ora, Suplicy, pela própria função pública que exerce, deveria ser um sujeito mais bem informado. Pelo visto, porém, ele não passa de mais uma pessoa que se atualiza sobre o que vai no mundo por meio de leituras da revista Veja, dos jornais O Globo, Folha e Estadão e pelo Jornal Nacional.
O argumento de que Chávez sufocava a imprensa e a liberdade de expressão em seu governo é risível, quando qualquer um que ouse se informar sobre como vão as coisas além do universo da imprensa oligopolista brasileira sabe que o esporte preferido da maioria dos meios de comunicação venezuelanos sempre foi justamente esculhambar Chávez e a sua revolução bolivariana - inclusive patrocinando golpes de Estado.
Se a Venezuela fosse o que o senador Suplicy pensa que é, nem ele e os outros que acham o mesmo que ele, estariam sabendo o que acontecia no país, não teriam notícias sobre o terrível embate de forças antagônicas que se abateu naquela sociedade nesses últimos tempos, ou sobre o  intenso debate eleitoral vivido no ano passado, ou a tensão permanente de uma nação integrada num processo de ruptura com o passado.
Creio que Chávez foi e é tão odiado pela elites, não só da Venezuela, mas de todo lugar, porque ele, digam o que disserem para denegrí-lo, foi portador de um atributo muito raro no ser humano: a capacidade de transformar sonhos em realidade.
Essa elite que odeia Chávez ignora completamente o que seja lutar por ideais que vão além da exclusiva acumulação do capital. Ela vai contra qualquer mudança que implique melhorar a vida de outras pessoas, que dê a elas oportunidades reais de sair da miséria e da pobreza, as arranque da ignorância e as faça ter esperança de que o mundo não é, necessariamente, um vale de lágrimas.
Chávez foi um visionário, um desses visionários que ajudaram na evolução do mundo da barbárie para a civilização.
Aconteça o que acontecer, a história da Venezuela e da América Latina sempre terá um lugar especial reservado a esse homem que dedicou quase toda sua vida a um sonho.
Pessoas assim, quando morrem, viram lendas.