segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Dinheiro não é tudo


O site da Deutsche Weller traz uma interessante matéria intitulada "Riqueza não garante qualidade de vida", que deveria ser lida por todos esses economistas que cultuam os números como divindades supremas e julgam um país apenas por meio deles, desconsiderando todo o resto.
Para tais pessoas, o que vale é o Produto Interno Bruto da nação, um indicador meramente econômico, parcial ao extremo. Numa comparação simples, é como se a gente pudesse saber o estado de uma casa apenas vendo o seu exterior, sem ter noção do que existe dentro dela, em que condições ela realmente se encontra.
Seria ótimo que os tais "cabeças de planilha" lessem a matéria, mas isso é pedir muito para eles, que têm tantas contas para fazer.
A íntegra vai a seguir:

O Produto Interno Bruto (PIB) per capita e o crescimento econômico são normalmente os indicadores utilizados para medir o bem-estar e a qualidade de vida de um país. A suposição básica é que crescimento significa riqueza, e quando a economia está bem todos ficam satisfeitos. No entanto, já há 40 anos o Clube de Roma, organização que reúne especialistas internacionais para lidar com questões como sustentabilidade, alertou em seu relatório "Limites do Crescimento" que uma economia baseada apenas na exploração de recursos naturais, acompanhada por um aumento permanente da população mundial, leva à destruição dos fundamentos da vida. 
Em 1987 foi a vez de o conceito de sustentabilidade aparecer pela primeira vez no debate internacional sobre desenvolvimento. O relatório final da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento afirmava que um desenvolvimento só pode ser sustentável se "satisfazer as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades". 
O conceito de Buen Vivir, ou Viver Bem, que o Equador e a Bolívia colocaram nas suas constituições, em 2008 e 2009, respectivamente, também se baseia no conceito de sustentabilidade. A intenção é reavivar os conhecimentos tradicionais e as experiências dos povos indígenas como alternativa ao capitalismo ocidental, visto como uma herança colonialista, responsável pela grande divisão social nos dois países. 
No Buen Vivir, o foco não está em superar o subdesenvolvimento por meio do progresso econômico, mas por meio do progresso social. Este inclui a preservação da identidade cultural e das sabedorias tradicionais, assim como o acesso à educação. Bem-estar não é definido pelo crescimento material e consumo, mas pelo desenvolvimento em harmonia com a natureza. 
A realidade econômica e social nos dois países ainda está longe desses objetivos, mas a filosofia do Buen Vivir deve ser vista como um caminho para a transformação social. Um passo inicial foi a criação da iniciativa Yasuní-ITT, que, em vez de incentivar a exploração das reservas de petróleo do parque nacional Yasuní, no Equador, visa proteger a biodiversidade da Amazônia e a população local. Em retorno, o país espera que a comunidade internacional compense metade da renda perdida com a não-exploração dos recursos naturais.
O conceito de Buen Vivir está intrínsecamente ligado às tradições indígenas dos dois países andinos e não pode ser simplesmente aplicado em outras regiões. Mas a crença de que o homem é parte de um todo e que respeito, solidariedade e dignidade humana devem ser a medida para ações econômicas e políticas também integra o conceito Ubuntu, na África do Sul. O nome vem de dois idiomas Bantu (Zulu e Xhosa) e significa humanidade. 
Com outros nomes, o conceito também existe em outras partes do continente africano. Na África do Sul, após o fim do regime segregacionista apartheid, o presidente Nelson Mandela colocou o Ubuntu no centro da ação política: humanidade e senso de comunidade deveriam formar os valores da nova nação que surgia. Com o tempo o conceito acabou sendo deixado de lado, mas o Ubuntu Education Fund (Fundo Ubuntu para Educação) permanece comprometido com os princípios que dão nome à organização, através do apoio a projetos de saúde e educação.
Como uma antítese budista à busca ocidental do lucro máximo, o rei do Butão formulou em 1972 a ideia de Felicidade Interna Bruta (FIB), que deveria ser mais relevante do que a performance econômica do país e se baseava em quatro pilares: proteção ao meio ambiente, preservação de valores culturais, desenvolvimento econômico e social para toda a sociedade e boa governança.
Ao implementar o seu FIB, o rei estabeleceu que saúde e educação deveriam ser gratuitas e mais de 30% do orçamento nacional, direcionado a gastos sociais. As florestas, que cobrem mais de 70% do território do país, se tornaram áreas de preservação. Investimentos públicos e novas propostas de legislação devem ser analisadas por um comitê especialmente criado para essa função. Caso os projetos não estejam de acordo com o conceito do FIB, eles devem ser debatidos no Parlamento e revistos.
O Centro de Estudos do Butão, que possui status de ministério, realiza regularmente pesquisas sobre o índice de felicidade entre a população. As perguntas são sobre renda, segurança no trabalho, acesso à educação e à saúde, condições do meio ambiente, bem-estar psicológico e disponibilidade de tempo. Ao menos 52% da população se considera "feliz", 45% se diz "muito feliz" e apenas 3% afirma estar "não muito feliz". 
Os exemplos citados acima levam a crer que a estabilidade e o bom funcionamento das estruturas sociais, o conhecimento da própria identidade cultural, assim como a preservação do meio ambiente, são fatores essenciais para uma qualidade de vida satisfatória. Esses conceitos também têm em comum o fato de estarem fortemente enraizados nas tradições e religiões dos seus respectivos países, o que limita as possibilidades de exportá-los a outras nações. 
Para tornar possível a comparação do bem-estar social em diferentes países e culturas, a ONU desenvolveu o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Nos relatórios anuais publicados desde 1990, não apenas a renda per capita é levada em conta, mas também a expectativa de vida e o nível de educação. 
A análise da expectativa de vida permite avaliar a situação dos sistemas de saúde, padrões de higiene e condições alimentares. O fator educação reflete o padrão de vida e a participação dos indivíduos na sociedade. 
No topo da lista estão países ocidentais industrializados que se ocupam das questões do bem-estar social, como a Noruega, a Austrália e a Holanda. Os EUA estão na quarta posição, a Alemanha em nono e o Brasil é o 84º. Os últimos 15 países dos 187 dos listados no IDH estão na África subsaariana. O IDH da ONU é criticado por não levar em conta as questões ambientais. 
Existe também o Happy Planet Index (HPI), ou seja, o índice de felicidade do planeta. A organização independente New Economics Foundation criou há sete anos o primeiro ranking que, além da expectativa de vida, analisa também a satisfação pessoal e a pegada ecológica das populações. São pesquisados, entre outros pontos, quantos recursos naturais são consumidos per capita para atingir o padrão de vida de um país.
No primeiro lugar no ranking de 2012 estava a Costa Rica, seguida do Vietnã. O Brasil está em 32º, a Alemanha ocupa a 46ª posição e os EUA ficaram em 105º lugar, bem atrás do Quirguistão (61º) e de Bangladesh (31º). Concluir que os americanos são mais infelizes que os quirguizes e os bengalis seria um exagero. o HPI apenas afirma que os americanos compram sua felicidade através do consumo excessivo de recursos naturais.

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