quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O país dos alcaguetes


O Estadão informa seus prezados leitores que as denúncias do insuspeito Marcos Valério de que o ex-presidente Lula teve contas pessoas pagas pelo esquema do tal "mensalão"  serão investigadas, a pedido do procurador-geral da República, o também insuspeito Roberto Gurgel.
Ora, todos sabem em que situação o insuspeito Marcos Valério meteu o ex-presidente Lula no imbróglio do tal "mensalão". 
Sobre o insuspeito procurador-geral pesam não esclarecidas acusações de prevaricação, entre outras que se referem a compromissos que teria assumido com notórios oposicionistas.
Diz que diz daqui, diz que diz dali, o Brasil se tornou o país do denuncismo inconsequente, do dedo-durismo  mais desprezível.
A alcaguetagem é uma prática comum entre pessoas que se sentem bem mais à vontade quando perambulam no submundo da sociedade.
Usam e abusam da delação para conseguir vantagens para si próprios, conseguir perdão às suas ilicitudes, ou simplesmente para sobreviver.
Não têm compromissos com nenhum valor ético ou moral, nenhuma ideologia.
O ex-presidente Lula é, entre as figuras públicas deste país, aquela que mais foi investigada. Sua vida pessoal tem sido revirada desde os tempos da ditadura, quando ainda era apenas um líder sindical em ascensão.
Sobre ele foram criados os mais imaginativos enredos. 
Quem não se lembra da história da suntuosa mansão na qual ele vivia no bairro paulistano do Morumbi?
Ou, bem mais recentemente, das centenas de milhões de euros transportados a seu pedido para o sigilo de um banco suíço?
O insuspeito procurador-geral Gurgel, ao determinar que se investigue a denúncia do insuspeito Marcos Valério, pode, aos olhos de alguns, estar apenas cumprindo o seu dever.
Eu, por mim, vejo a coisa de outra maneira.
Para mim, o insuspeito procurador-geral ou é o mais tolo dos homens, daqueles que creem em duendes, ou então é mais esperto (safo, talvez?) do que imaginamos.
Seja como for, gastar tempo e dinheiro para ir atrás do que fala um dedo-duro juramentado como o insuspeito Marcos Valério é, como se diz pelas ruas do Brasil, de doer.

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