Na pré-história do futebol

O vergonhoso rebaixamento do Palmeiras para a segunda divisão do campeonato brasileiro de futebol tem muitas causas, a começar pelo baixo nível técnico de seus jogadores. Mas o fator preponderante esteve longe dos gramados: o clube é comandado por cartolas que parecem ter congelado nos anos 60 ou 70, quando o folclórico Vicente Matheus agradecia à Antarctica por ter doado suas Brahmas para a festa do Corinthians.
O Brasil tem mudado muito de uns dez anos para cá em vários setores.
No futebol, porém, as coisas parecem imutáveis.
Um outro clube dá sinais que entrou na era moderna, mas a maioria ainda acha que dirigir um clube de futebol é um esporte para quem não pode jogar bola.
No caso do Palmeiras, por causa das peculiaridades da agremiação, com sua política fraccionada em grupos que se odeiam, o despreparo dos cartolas atinge níveis insuperáveis.
O vice-presidente de futebol, Roberto Frizzo, dono de uma rede de lanchonetes, disse, por exemplo, numa entrevista a uma estação de rádio, que procurava seguir no Palmeiras os preceitos administrativos de sua empresa, ou seja, comparou um clube de futebol a um bar.
O presidente, Arnaldo Tirone, antes de assumir o cargo, era um dos mais ferrenhos críticos do contrato firmado entre o clube e a W Torre, que está possibilitando a construção de um estádio e prédios modernos para a agremiação a custo zero.
Uma de suas primeiras providências ao assumir a presidência foi demitir todos os profissionais de áreas que haviam sido profissionalizadas pela gestão anterior, do economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
E por aí vai.
O drama do Palmeiras se resume nisso: quem o dirige ainda tem a cabeça do Brasil pré-2003, um país de enorme potencial econômico e cultural desperdiçado por governantes de mentalidade tacanha, que tinham orgulho de agir como colonizados.
O Brasil mudou, mas infelizmente há muita gente que não consegue se livrar daquele passado medíocre.