terça-feira, 20 de novembro de 2012
A vez dos negros
O professor e pesquisador Edson Lopes Cardoso foi incisivo na palestra que fez segunda-feira, dia 19, na Advocacia-Geral da União, em Brasília: segundo ele, entre a Lei Áurea, assinada em 1888 e a Lei 3.708, de 2011, que instituiu o primeiro sistema de cotas nas universidades para estudantes afrodescendentes, não houve no país nenhuma iniciativa que beneficiasse o negro. "Apagamos a escravidão da história", disse.
A palestra de Cardoso, que também é assessor especial da Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdade Racial da Presidência da República, fez parte das comemorações do Dia da Consciência Negra, comemorado hoje, 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares.
Ele defendeu ainda a Lei de Cotas, sancionada em agosto, e alertou que é preciso mobilizar governo e sociedade para que, no fim de dez anos, quando a lei precisará ser revista, os resultados possam ter contribuído para melhorar o modelo de sociedade no Brasil.
Mas ele é esperançoso: “As pessoas vão se surpreender daqui a alguns anos quando forem atendidas por um médico índio, um engenheiro negro. E isso vai acontecer. A sociedade e o governo têm que garantir que esse seja o caminho”.
Cardoso lembrou que, apesar de haver no país uma rica diversidade racial é preciso saber lidar com essa variedade, que resultou de um processo histórico e que só traz vantagens para o Brasil. “O que fazemos com essa vantagem? Uma sociedade diversificada tem um desafio, que é assegurar o pluralismo. É compromisso da democracia, combater o racismo e o sexismo”, disse.
As estatísticas dão razão ao professor. Apesar de maioria da população economicamente ativa (PEA), os negros são os que mais sofrem com o desemprego, segundo dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego, referente a 2011, feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em parceira com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Fundação Seade) e o Ministério do Trabalho (MTE).
O levantamento, divulgado segunda-feira, leva em consideração as regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, do Recife, de Salvador, São Paulo e do Distrito Federal. Nas regiões pesquisadas, verificou-se uma participação superior da população negra na PEA, comparada à da parcela não negra. De acordo com a pesquisa, à exceção de Fortaleza e Porto Alegre, onde as taxas de participação de negros e não negros eram semelhantes em 2011, nas demais regiões, as inserções no mercado de trabalho dos negros foram sempre mais elevadas.
Em Belo Horizonte, 57,3% da população negra participam da PEA, ante 56,7% da população não negra; no Distrito Federal o percentual é 63,7% (negra) e 62,7% (não negra); em Fortaleza, negra (58,1%) e não negra (58,4%); Porto Alegre, negra (57%) e não negra (57,1%); no Recife, 54,7% (negra) e 54,3% (não negra), em Salvador, negra (56,5%) e não negra (56,4%); e São Paulo, 63,7% (negra) e 62,9%(não negra). Mas, apesar disso, diz o texto da pesquisa, “esse segmento populacional ainda convive com patamares de desemprego mais elevados: no último ano, a proporção de negros no contingente de desempregados na maioria das regiões foi superior a 60%, exceto nas regiões metropolitanas de Porto Alegre (18,2%) e São Paulo (40,0%)”.
Quando a análise é com base na cor da pele e também no sexo, destaca-se a discriminação sobre as mulheres negras – que sofrem as mais elevadas taxas de desemprego em comparação aos demais grupos, inclusive as mulheres não negras.
Na região metropolitana do Recife, a taxa de desemprego das mulheres negras (18,1%) e de não negras (13,60%). Em Fortaleza, mulheres negras (11%) e não negras (9,9%).
A pesquisa mostra ainda que a remuneração dos negros é inferior em todas as regiões metropolitanas pesquisadas. Em Salvador e São Paulo, a hora trabalhada dos negros correspondia, respectivamente, a 60,9% e 61%. As situações menos desiguais foram encontradas em Fortaleza e Porto Alegre, onde os valores das horas trabalhadas dos ocupados negros equivaliam a 73,3% e 70,6% dos não negros, respectivamente. (Com informações da Agência Brasil)
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