sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O verme do preconceito


Passo os olhos pelo Facebook e leio os mesmos argumentos usados pela campanha serrista para desqualificar a candidatura Haddad.
Mensalão é a palavra-chave dessa argumentação: o candidato do PT vai deixar a cidade nas mãos "sujas" dos "mensaleiros", o PT vai aparelhar a prefeitura, Lula está por trás de tudo e o que ele quer mesmo é ganhar o governo estadual.
Como diria o esquartejador, vamos por partes.
Quem diz que não vai votar no PT por causa do tal "mensalão" não pode, por coerência, votar também no PSDB, que é o pai desse esquema de financiamento de campanhas eleitorais - o primeiro "cliente" de Marcos Valério foi Eduardo Azeredo, ex-senador e agora deputado federal por Minas.
A alegação de que quem vai "mandar" em São Paulo são os "mensaleiros" é no mínimo infantil. Isso seria impossível, já que os políticos do PT envolvidos no processo estão há muito tempo afastados da direção partidária. Mesmo José Dirceu, a quem muitos atribuem as façanhas mais fantásticas do mundo, nos últimos anos se dedicou muito mais às suas atividades profissionais que às partidárias, embora, como Genoino, Delúbio e João Paulo Cunha, continue a fazer política, um direito de todo cidadão.
Nos seis anos em que comandou o Ministério da Educação, Fernando Haddad  certamente trabalhou e conheceu pessoas de competência suficiente para ajudá-lo a governar São Paulo, sem falar que é a burocracia administrativa que, em última análise, é que faz as coisas andarem. E ela, como se sabe, é concursada.
Essa história que os seus adversários divulgam, de que o PT aparelha as suas administrações, é outra bobagem. Todos os partidos, quando chegam ao poder, procuram preencher os cargos-chaves com gente de confiança. Isso acontece no Brasil, nos Estados Unidos, no Afeganistão, em todo o mundo.
O próprio PSDB, aliás, é campeão na prática. A primeira coisa que Geraldo Alckmin fez quando assumiu o governo do Estado no lugar de Serra foi defenestrar todos os que, de alguma forma, eram ligados ao "amigo" que ele sucedeu para colocar no lugar as pessoas do seu esquema. Geraldo pode parecer, mas não é bobo. Além disso, os números estão aí para provar que, pelo menos na esfera federal, nunca se fez tanto concurso público para o funcionalismo quanto nesses últimos anos.
Meu convívio social é com gente que, como eu, pertence a um determinado estrato, no caso o médio, pessoas nem pobres nem ricas. E nesses anos todos o que aprendi é que todos nós temos preconceitos, alguns mais, outros menos, e na maioria das vezes a gente nem percebe isso ou então tenta o máximo possível mostrar uma pureza impossível de existir nos seres humanos.
Por isso é comum procurarmos desculpas e justificativas para determinadas ações, para coisas que fazemos ou pensamos - no fundo, é o preconceito que age, sorrateiro, insidioso, por trás de nós.
Assim, relevo muitas dessas opiniões que ouço sobre as eleições, sobre a política em geral. "Não voto no PT por causa do mensalão", por exemplo, pode ser muito bem traduzido por "Não voto no PT porque o Lula é um nordestino analfabeto que não é da minha classe social".
Mensalão e todas essas coisas que as pessoas alegam para negar o voto ao candidato petista são, muitas vezes, meras justificativas para encobrir um sentimento irracional que é moralmente condenado, que não pode ser explicitado nem assumido.
Se não houvesse a desculpa do mensalão, haveria outra qualquer.

Um comentário:

  1. Concordo em gênero, número e grau. Todos esses ataques ao PT se devem exclusivamente ao preconceito irracional contra Lula, por este não pertencer a elite.
    A meu ver, muita coisa precisa mudar, mas verdade seja dita, nunca o Brasil avançou tanto como no governo Lula e agora Dilma.
    Infelizmente muitos preferem fechar os olhos p/ essa realidade e serem guiados, como equinos, pela mídia elitista e nada imparcial.

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