segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As razões da derrota de Serra


Ontem, domingo, tão logo saíam os resultados da boca-de-urna da eleição paulistana, o experiente José Serra deveria estar se perguntando por que havia perdido a eleição para o neófito Fernando Haddad. Mais ou menos nesse instante, uma forte chuva caía na zona oeste da cidade. Onde moro, no Caxingui, começou a faltar energia uns minutos depois da aguarada desabar.
Estava trabalhando. Voltei para casa tarde da noite. No caminho, pelo menos uns dez semáforos estavam fora de combate e vi cerca de meia dúzia de árvores no chão. Havia trechos de ruas tão escuros que só o farol alto dava conta.
Para resumir, a energia voltou ao prédio ondo moro por volta das 5 da madrugada, cerca de 12 horas depois que o fornecimento foi interrompido - parabéns à Eletropaulo pela competência!
José Serra, a essa altura, ainda deveria estar acordado e certamente teria pensado em dezenas de explicações para a sua derrota.
Quem sabe, até mesmo pode ter lhe passado pela cachola - ele gosta desse termo - que parte da culpa foi de Gilberto Kassab, essa piada que deixou de herança para a cidade quando resolveu abandoná-la.
José Serra, todos sabem, é um homem persistente.
Se continuasse a pensar sobre as consequências de seu legado para os paulistanos sem dúvida nenhuma lhe ocorreria que a votação que obteve nesta eleição, apenas da parte mais rica da população, é um recado cristalino de que o seu "poste" é feito de material ruim, que mal e mal consegue se sustentar - e muito menos todas as responsabilidades inerentes à sua função...
José Serra, todos sabem, é teimoso.
Se, tarde dessa madrugada, insistisse em saber as razões que levaram o seu partido a naufragar tão fragorosamente nestas eleições, talvez ficasse cansado de respirar o ar úmido e quente e resolvesse dar uma volta pela vizinhança, só para espairecer.
Aí, teria uma surpresa, ao ver, do Alto de Pinheiros, onde mora, parte da cidade às escuras - não a parte miserável, que já se acostumou a essas e outras desventuras, mas a porção mais abençoada pela fortuna.
E nesse momento, graças à sua pertinácia, veria resolvido o enigma de sua derrota: as urnas não lhe foram gratas simplesmente porque os eleitores não estavam nem um pouco contentes com o estado terminal a que a metrópole chegou nas mãos de seu afilhado Kassab, um reles continuador das hediondas políticas de segregação econômica e social de outros prefeitos que passaram por aqui.
José Serra poderia ter tido uma noite de sono restaurador depois de uma campanha extenuante se, em vez de procurar na vida política as razões para o seu fracasso, olhasse a cidade que diz tanto amar com os olhos de um simples morador, uma pessoa que depende de serviços básicos, como a energia elétrica, por exemplo, para levar o seu dia a dia de maneira pelo menos suportável.

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