segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Porteira onde passa um boi...


O maior perigo para o país no caso do tal mensalão é o Supremo Tribunal Federal condenar os réus apenas porque a imprensa, voz da oposição política, assim deseja - e não o contrário, ou seja, inocentá-los por absoluta existência de provas concretas.
Diz a voz popular que "porteira onde passa um boi passa uma boiada". 
Sob essa lógica, e já que as suposições estão em alta, não custa nada pensar no que seria da sociedade brasileira se a mais alta corte de Justiça se dobrasse aos interesses de uma determinada corrente política, que, legitimamente, por três vezes, foi rejeitada pelo voto popular, foi afastada do poder. 
Todos nós, simples mortais, sabemos o quanto o Judiciário é desacreditado, o quanto, nas conversas de bar, nas rodinhas de café, se ouve dizer que a Justiça nesta terra de Pindorama tem preço, é mercadoria que se compra e se vende como qualquer outra, é mais dura ou menos severa de acordo com o bolso do freguês - ou do réu. 
Não por acaso a corregedora nacional do Conselho Nacional de Justiça, Eliana Calmon, se referiu, indignada, aos "bandidos de toga" que conspurcam a imagem e o trabalho do Judiciário.
Transformar o julgamento do tal mensalão num simples espetáculo midiático, num caso "exemplar" de combate à corrupção, como vários "analistas" nem um pouco isentos pretendem, seria, neste momento em que o Brasil está muito perto de se equiparar às democracias ocidentais mais avançadas, um retrocesso institucional enorme, seria como se o país voltasse ao tempo em que tribunais militares avocavam para si o poder para julgar, sumariamente, e condenar, sem exceções, quem se indignava contra a ditadura militar e lutava contra ela.
Esses homens feitos, já maduros e vividos, que estão por aí, neste momento, babando de ódio e incitando o linchamento dos réus do tal mensalão, conclamando o Supremo a abandonar qualquer olhada mais atenta nos autos dos processos, deveriam, até por simples instinto de sobrevivência, repensar os seus atos. Amanhã, podem eles ser os alvos da indignação popular.
"Porteira onde passa um boi, passa uma boiada" diz a voz popular. 
O Supremo, pelas suas prerrogativas, por ser a última instância do Judiciário, a esperança derradeira de Justiça, não tem o direito de errar - e muito menos de errar deliberadamente.
Se condenar sem provas substanciais, se ouvir o clamor da opinião "publicada" - não a pública -, se curvar-se aos desígnios de políticos que foram derrotados nas urnas e tramam incessantemente uma vingança, se render-se aos interesses poderosos e ocultos que desejam manter o país sob seu jugo, o Supremo se desmoralizará, virará tema banal do papo de botequim, do falatório do populacho, das conversas das comadres e das piadas dos bêbados.
O Supremo, aqueles homens e mulheres que falam uma língua de outro planeta, que tratam uns aos outros de excelência, que usam aquelas capinhas pretas sobre as roupas - e que fingem distribuir Justiça...
Tenha dó, o Supremo...

5 comentários:

  1. Caro colunista, não tenho certeza de que a opinião pública (o Zé que pega ônibus 5 da matina) independente das provas, quer a liberação dos 36 pelo STF. Creio que a maioria quer a condenação deles, pois não sabem discernir se há prova ou não. Mas sabem que em 2003/2004, quando surgiu o termo mensalão, a falação era de que houve no Brasil a maior roubalheira da história feita por políticos. E o Zé Dirceu era o chefe. Isso está na cabeça do povo. Portanto, se o STF inocentá-los, a população deverá achar que mais uma vez um escândalo terminou em pizza.

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  2. Caro anônimo,
    não cabe à opinião pública julgar, e sim ao Supremo. E ao Supremo cabe julgar se há crime não pelo "clamor das massas", mas sim pelo que dizem os autos do processo. Se o Supremo inocentar os réus com base na inexistência de provas estará cumprindo com o seu papel de tribunal. Julgar com base em "falação" não é julgamento.

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  3. Eu assisti hoje as defesas de José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno, pelo que compreendi, as acusações do PGR foram recortadas de edições da Veja e dos demais orgãos de imprensa do tucanato, também conhecidos como PIG.
    Não há datas ou documentos comprovando quem pagou ou recebeu dinheiro do Governo para votar matérias no Congresso, oque há realmente é um esquema de caixa dois, fora isto, o resto é um circo montado para desacreditar Lula e o PT. Afinal, nossas oposições neo-liberais, que não conseguem ganhar nas urnas, tenta a todo custo ganhar no tapetão e besta é quem acredita em tudo oque essa imprensa abutre que espera o PT morrer politicamente para destroçar o País e entregar seus pedaços aos amigos via comissões depositadas nas Ilhas Caimãs.

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  4. Pior que bandido fardado é bandido togado...

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  5. Prezado Motta,

    Neste primeiro dia em que os advogados dos acusados usaram da tribuna para a sustentação oral, eu considerei o trabalho do representante de Marcos Valério o mais eficaz no desmonte do conjunto da obra fictícia de Gurgel.

    Sem prejuízo dos demais defensores - também responsáveis por boas defesas - assisti um profissional do direito argumentando com fatos contidos nos autos, citando páginas e volumes do processo, e lendo os testemunhos em juízo e os resultados das perícias da Polícia Federal que desmontavam todas as acusações do PGR.

    O professor Marcelo Leonardo cumpriu esse ritual para cada uma das nove acusações contra Valério sendo convincente na argumentação e na descrição dos fatos que sustentavam suas ponderações.

    Não precisou usar adjetivações, exatamente o que mais Gurgel abusou em seu rito de acusação.

    E você, Motta? Qual sua avaliação sobre essa defesa?

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