segunda-feira, 16 de julho de 2012

A memória seletiva de FHC


O professor FHC volta a dar aulas sobre o Brasil. Como constantemente é chamado a falar sobre esse e outros termas, presume-se que existam muitas pessoas que ainda o veem como possuidor de uma sabedoria que normalmente é privilégio daqueles que passaram a vida inteira se dedicando ao estudo de seus assuntos preferidos. FHC, é verdade, produziu vários trabalhos acadêmicos, muitos dos quais em parceria com outros colegas cujos nomes se perderam na poeira dos tempos. É verdade também que muitas das ideias mestras dessas obras foram posteriormente repudiadas pelo próprio autor, como se fossem diatribes da juventude que não se sustentaram quando confrontadas com a dura realidade do embate político-administrativo cotidiano.
Foi num intervalo de suas constantes viagens para receber um prêmio internacional ou outro que FHC falou sobre esse tema, o Brasil, que lhe é tão caro.
Mas, como das outras vezes, talvez por pura preguiça, talvez por desinteresse mesmo, FHC se esqueceu, na análise ácida que faz do Brasil de hoje, para ele cheio de problemas e de futuro tão incerto quanto sombrio, de se incluir como um dos principais responsáveis por essa situação que tanto lamenta.
Como essa recente entrevista repete tudo aquilo que FHC exaustivamente já propagandeou mundo afora sobre as fraquezas e mazelas do país, basta apenas transcrever um trecho para ressaltar como a memória do sociólogo e ex-presidente anda falhando:
"O vento no mundo não sopra mais a nosso favor. Então, o desafio do governo da presidente Dilma é retomar algumas reformas e fazer o que o governo do presidente Lula não fez durante o bom momento do crescimento econômico, que é cuidar do investimento e da poupança. No vento a favor, Lula cuidou do consumo, não da produção, do investimento. A produtividade da nossa indústria perdeu em comparação com a de outros países. Mas não é a produtividade de dentro da fábrica. É de fora. São as estradas, o custo da energia, os aeroportos, o sistema tributário, a educação.”
Se o repórter que registrou para a imortalidade as palavras de FHC estivesse mesmo interessado em extrair do entrevistado algo mais que um simples panfleto publicitário, poderia, ao fim da resposta, fazer uma perguntinha simplória, mas necessária para que o leitor se esclareça sobre algumas coisas. Uma pergunta como essa, por exemplo:
-  O sr. esteve na presidência durante oito anos, o mesmo tempo que Lula. Por que então, o sr. não fez essas obras de infraestrutura, esses investimentos na educação, essa reforma tributária e não baixou os preços da energia que agora diz que são necessários ao Brasil?
Como o repórter se omitiu em sua função, só resta especular qual seria a resposta do sábio e provecto FHC. Mas é nessas horas que a sua memória mais costuma falhar.

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