quinta-feira, 21 de junho de 2012

Maluf, Hélio Louco e a foto polêmica


O pessoal que trabalhou no Estadão lá pelos anos 80 e 90 certamente se lembra de um contínuo que fazia mais serviços externos que internos, o Hélio Louco, morto em um acidente de carro. Era um grandalhão que usava um blusão de couro, sempre pronto a tirar sarro dos "petistas", que é como se referia a todo aquele que não gostava do seu maior ídolo político - e de vida -, um senhor chamado Paulo Maluf.
O Hélio Louco era mais malufista que qualquer um dos taxistas que, em determinada época, compunham a esquadra volante dos cabos eleitorais do referido senhor pela metrópole. A devoção do Hélio Louco por Maluf era algo de se ver. Claro que nós não perdíamos nenhuma oportunidade para provocá-lo, mesmo sabendo que haveria o troco.
Geralmente ele vinha quando grupos de estudantes visitavam a redação, levados por um simpático recepcionista de quem não lembro mais o nome. Os escolares iam, em fila indiana, passando pelos corredores formados por nossas mesas, curiosos a observar o nosso trabalho. Quando o Hélio Louco, para azar nosso, se achava presente, não aliviava para o nosso lado - chamava a atenção da estudantada e dizia alto, para todos ouvirem:
- Atenção, não deem comida para os animais.
E soltava uma sonora gargalhada.
Certo dia perguntei aos colegas mais velhos se havia uma razão especial para que o Hélio Louco gostasse tanto de Maluf. Havia, disseram. E me contaram uma história que foi, posteriormente, confirmada pelo próprio Hélio: segundo ele, sua filha estava viva graças a Maluf.
Conforme relatou, ela estava muito doente quando o então governador e comitiva visitaram o bairro onde morava. Ele tomou coragem e foi implorar ajuda a Maluf. Chegou a ajoelhar diante dele. Maluf o ouviu e imediatamente mandou seus assessores levarem a menina para um hospital. E ela se curou.
Depois disso, para o Hélio Louco só havia Deus no Céu e Maluf na Terra.
Passados tantos anos da confissão do Hélio Louco fico imaginando quantas pessoas humildes como ele, por um motivo ou outro, passaram parte de suas vidas pagando um favor feito por um político, arranjando votos de amigos e familiares, distribuindo santinhos, batendo de porta em porta na vizinhança fazendo propaganda do "doutor", gastando a sola do sapato para agradar o chefe.
No caso do Hélio Louco calhou de ser Maluf o seu "salvador", o Maluf que fez carreira politica adulando os militares, cumprindo todas as suas ordens ao mesmo tempo em que ia desenvolvendo essa faceta populista e demagógica que tanto impressionava a população desassistida por um Estado cruel e ausente para os pobres, mas afável e muito presente para os ricos.
O Brasil mudou, muita coisa está hoje melhor do que no tempo em que o Hélio Louco suplicou ajuda ao Maluf. O próprio Maluf de hoje é outro. Prisioneiro de um passado que o condena, vive praticamente recluso, pouco se expõe ao público, pois sabe que já não pode contar mais nem com a simpatia dos motoristas de táxi, sabe que seu nome virou sinônimo de corrupção, de assalto aos cofres públicos. Logo, logo, "malufar" estará em todos os dicionários, como já consta deste "Dicionário Informal" - é bom não subestimar a sabedoria do povo...
A tão polêmica foto que tirou ao lado de Lula, creio, foi o pagamento que exigiu para chancelar seu apoio à candidatura de Fernando Haddad à prefeitura paulistana. É uma imagem que vale muito mais que qualquer cargo que pudesse barganhar para seus cupinchas.
Apertar a mão do "cara" com aquele sorriso falso, dar um abraço no presidente mais popular da história do Brasil, do personagem que simboliza as causas populares, herói de grande parte da esquerda mundial, convenhamos, é um fim de jornada glorioso para quem começou a carreira puxando o saco de militares responsáveis pelo período mais negro que o país jamais viveu.
"Não existe mais esquerda ou direita", disse aos jornalistas para justificar o apoio ao PT.
Bobagem, ele sabe que isso é mentira.
Mas Maluf não seria Maluf se, no ocaso de sua vida, se dispusesse a confessar que está cansado, que não tem mais ilusões, que aquele tempo em que podia, com uma simples ordem, determinar se a filha do Hélio Louco iria viver ou não é apenas uma lembrança perdida no nevoeiro da história.
Que ele descanse em paz.

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