Coretos, jardins e espelhos d'água

Passo uns dias em Serra Negra, cidade de 26 mil habitantes a 150 quilômetros de São Paulo, na região chamada de Circuito das Águas Paulista, que inclui ainda Amparo, Jaguariúna, Monte Alegre do Sul, Lindoia, Águas de Lindoia, Pedreira e Socorro.
Serra Negra vive do turismo. Sua rua principal é um shopping center ao ar livre, com centenas de lojas de roupas, presentes, comidas e bebidas, além de vários hotéis. Os preços variam, assim como a qualidade dos produtos e serviços, mas são muito mais baixos que os dos shoppings paulistanos.
Na praça João Zelante, em frente de outra onde fica a prefeitura, chamada John Kennedy, há um coreto de estilo moderno, palco de shows de artistas, bandas de músicas e atividades afins. A sua cobertura está estragada há anos.
Outra praça do centro, a Sesquicentenário, é enorme. Nela existe um espelho d'água - sem água. Os canteiros de rosas e os jardins estão mal cuidados, quase abandonados.
No geral, pelo menos na região central, Serra Negra parece estar em condições razoáveis. Mas não fosse pelo descaso com a manutenção desses e de outros locais, seu aspecto seria bem melhor.
O prefeito de Serra Negra é conhecido de todos por Bimbo. Seu partido é o DEM, ex-PFL, ex-Arena, suprassumo do reacionarismo tupiniquim, responsável por grande parte do entulho autoritário que sobrou da ditadura militar. Pelo que sei, a turma do atual DEM domina a política local há muito tempo, graças à influência do clã dos Chedid, que mantém prósperos negócios em toda a região.
A proximidade da eleição municipal parece ter despertado no prefeito uma enorme vontade de trabalhar.
Faixas na praça Sesquicentenário avisam que ela receberá um novo paisagismo e o espelho d'água será reativado. No coreto da João Zelante um display digital informa que o coreto receberá uma nova cobertura.
O prefeito Bimbo não faz nada de novo. Repete uma prática de quase todos os seus colegas do Brasil inteiro, que passam três quartos da administração acumulando recursos para gastar no último ano, tentando se reeleger ou emplacar seus sucessores.
É uma pena que isso aconteça. Se tivessem em vista apenas o seu trabalho, manter-se no cargo seria apenas consequência de uma boa gestão.
Como são incompetentes, ou então meros fantoches desses tantos coronéis que ainda mandam no país e a quem têm de prestar uma servil lealdade, precisam usar desses artifícios.
Quem paga por isso são os coretos, os jardins e os espelhos d'água das praças de todas as cidades  - e, claro, as pessoas que deles fazem uso no pesado dia a dia que têm de enfrentar.