Dilma agora é acusada de ser "populista" (Roberto Stuckert Filho/Presidência) |
Passo os olhos pelas capas dos principais portais informativos da internet. No da Folha, um título me chama a atenção: Para leitor, fala de Dilma sobre bancos é 'populista'. Abro a nota e leio o seguinte:
"O arrogante e agressivo pronunciamento da presidente Dilma Rousseff no rádio e na TV deixou claro o populismo de nosso governo, pois juros, colocados aparentemente por equívoco no discurso presidencial do 1º de Maio, passaram a fazer parte do repertório eleitoral, como se está verificando.
Marketeiros comprovaram a força da expressão e esperamos muitas referências a eles até as próximas eleições. Isso apenas lembra atos de governos populistas recentemente ocorridos na América do Sul, com as estatizações de uma petroleira na Argentina e de uma distribuidora de energia na Bolívia, ambas estrangeiras.
Só para lembrar, os juros em cheque especial no Banco do Brasil no dia 27/4 eram de apenas 94%."
O sujeito que mandou a mensagem deve existir, mas é estranho que o jornal escolha exatamente aquela que critica a presidente por pelo menos tentar convencer os bancos privados a baixar as suas taxas. Mais estranho ainda é o fato de que, de várias maneiras, os nossos jornalões estão defendendo o juro alto, que, na teoria, é tão prejudicial a eles quanto para o resto do empresariado ou dos trabalhadores.
O tal leitor que escreveu a mensagem pode muito bem ser um alto funcionário de algum banco, pode mesmo ser um banqueiro, ou simplesmente achar sinceramente que a presidente fez um pronunciamento "arrogante e agressivo" para o 1º de Maio, que deixou explícito o seu "populismo".
Como este é um país que se supõe democrático, cada um pensa o que quiser e age como quiser, desde que esteja dentro dos limites da lei. Isso é bom porque por meio dessas opiniões variadas pode-se ter a noção do acerto ou do erro de uma determinada medida.
Pela mensagem escolhida pela Folha o que se nota é uma preocupação com o possível uso eleitoral da queda dos juros, comparada pelo sujeito que a mandou às ações de estatização feitas pela Argentina e Bolívia - no seu entendimento, os governos que baixam os juros e retomam o controle de empresas de setores estratégicos para a economia são "populistas". Enfim, cada um pensa o que quiser...
Mas é dessa forma dissimulada, sutil, que age a nossa imprensa em determinados casos. Não seria adequado criticar a presidente de imediato por ela querer baixar os juros, pois afinal é isso que 99,9% da população brasileira quer. Então, se adota outra tática, espalha-se o veneno em alguns lugares, planta-se a semente da dúvida aqui e ali para convencer alguns incautos de que se o governo quer baixar os juros é porque isso vai ser bom para ele e para mais ninguém.
Acho que é desnecessário dizer que os bancos são grandes anunciantes, prestam uma grande ajuda aos nossos jornalões, e até um deles, o Estadão, funciona, já faz alguns anos, sob a intervenção de banqueiros. A pauta das editorias de economia é quase toda ditada pelos departamentos econômicos das instituições financeiras, que distribuem com presteza e generosidade dezenas de "papers" cheio de números com todo o tipo de análise da área, obviamente que puxando a sardinha para o seu lado.
Há muitos anos a Fiesp e outras entidades empresariais deixaram de apitar nos jornalões. A visão macroeconômica que é passada ao leitor é, portanto, desequilibrada, aponta apenas para o lado do rentismo, do mercado financeiro, e não da produção.
O governo Dilma pode mesmo ter pensado em faturar alguma coisa mais com a queda dos juros. Claro que se os planos derem certo a sua popularidade aumentará. E, com mais respaldo, poderá fazer outras coisas boas para o desenvolvimento do Brasil, como, por exemplo, construir mais casas, mais hospitais, mais escolas, mais estradas...
Isso é populismo? Se for, ótimo. Viva o populismo, então!
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