sábado, 12 de maio de 2012

Serra e Haddad, o velho e o novo


Lá se vão quase 40 anos da primeira eleição em que votei. Era o ano de 1974 e, no Estado de São Paulo, competiam para o Senado o ex-governador Carvalho Pinto, pela Arena, o partido da ditadura, amplamente conhecido e favorito disparado, e um sujeito chamado Orestes Quércia, pelo oposicionista MDB, que havia sido prefeito de Campinas.
Os jornais davam como certa a vitória de Carvalho Pinto, mas foi só a campanha se iniciar na televisão para ver que o jogo não estava assim tão tranquilo para ele. Quércia era o fato novo, falava incisivamente, sabia usar a TV e foi convencendo os eleitores a votar nele. Em poucos meses deixou de ser um político desconhecido para 90% das pessoas e virou uma celebridade. Ganhou de lavada. Nunca mais ninguém ouviu falar de Carvalho Pinto. Quércia ainda foi eleito governador do Estado e depois... Bem, é melhor parar por aí.
A historinha me veio à cabeça a propósito dessa pesquisa Ibope que dá amplo favoritismo a José Serra na corrida à prefeitura de São Paulo e coloca o candidato do PT, Fernando Haddad, numa das últimas posições. Ouvi e li, nas redes sociais da internet, comentários do tipo "É, não tem jeito, o Serra vai ganhar", "Nossa, o Haddad está só com 3% dos votos" etc e tal.
Como acompanho política desde antes de votar em Quércia no distante 1974 e, de lá para cá, vi uma série de candidatos azarões chegarem na reta final da campanha encostados com as barbadas, não dou a mínima para essa pesquisa. Aliás, extraio dela a convicção de que o nosso simpático, carismático e popular José Serra, que já disputou não sei quantas eleições, que aparece todo santo dia no rádio, na televisão e nas páginas dos jornalões, vai empacar nesse 1/3 do eleitorado que diz que pretende votar nele, pelo simples fato de que a rejeição ao seu nome é maior que a aprovação. E isso com 100% das pessoas afirmando que o conhece e com todo o "recall" da eleição presidencial.
Por falar nisso, Haddad é o menos conhecido dos candidatos. Todos os outros são figurinhas fáceis na cena política paulista e paulistana. E, se formos considerar isso, que quase ninguém sabe quem ele é, que nunca sequer ouviu o seu nome, que não tem a menor ideia de que ele é o candidato do PT e de Lula, até que começar com o cacife de 300 mil votos não está nada mal.
O pessoal que deseja uma mudança e está agora temeroso de que as trevas continuem a dominar São Paulo precisa apenas controlar a ansiedade e esperar que a campanha comece efetivamente - e isso só vai ocorrer quando o noticiário da televisão destacar o dia a dia dos candidatos e o horário eleitoral gratuito se iniciar. Por enquanto, só uma meia dúzia sabe e se preocupa com a eleição municipal. Como fica evidente, os jornalões não têm a menor importância nesse processo, são lidos por um público muito pequeno e que já escolheu em quem votar.
Serra pode até chegar no segundo turno, mas não vai ser fácil para ele, não. Por mais desinformado e conservador que seja o paulistano, acho que desta vez ele vai preferir apostar no novo.

Um comentário:

  1. Meu caro amigo Motta , você , Kostscho e o Miguel do Rosário , são mais certeiros em suas análises políticas que as bombas do Bush no Iraque .
    O Hadad é um desconhecido do grande público , porém , quem acompanha a política nacional , já o conhece a tempos .
    Eu fico imaginando os tucanos paulistanos , afinal Dilma Rousseff era um poste , uma incógnita , nunca havia disputado uma eleição , e... zás!!! Torna-se a primeira mulher presidente do Brasil .
    Eu penso , aqui com meus botões (Parafraseando Mino Carta ) , que Fernando Hadad , tendo em seu palanque uma unanimidade (Lula ) e uma presidenta que peitou políticos fisiológicos (PMdB) e banqueiros agiotas, terá um grande trunfo pela frente.
    Lula é um homem de visão , ele sabe que o eleitor quer quadros novos. Afinal , para quê , votar em alguém , que já mostrou do que é capaz , se você pode votar em alguém que tem idéias novas?

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