quarta-feira, 16 de maio de 2012

O choro dos empresários


Nesses 25 anos de trabalho na edição de textos ligados, de uma forma ou outra, à economia, se teve algo que aprendi foi que o empresário brasileiro é o maior chorão que existe. Os negócios nunca vão bem para ele.
Há poucos meses o dólar estava cotado há menos de R$ 1,70 e o discurso que eles faziam era que isso não podia continuar, sob o risco de o pais entrar num processo irreversível de - ô palavra feia! - desindustralização, com as inevitáveis consequências que o fato acarretaria - queda vertiginosa nas exportações, desemprego em massa, mais inflação e, possivelmente, recessão. O fim dos tempos.
Hoje, com o dólar a R$ 2,00, tudo indicava que os nossos patrióticos líderes empresariais estivessem sorrindo à toa. Afinal, com a moeda brasileira mais fraca, podem lucrar mais nas vendas ao exterior, feita em dólares. Que nada. A choradeira continua. A cotação, dizem, ainda não é suficiente para que seus negócios se tornem competitivos e não há nada que indique que ela vai continuar assim por muito tempo. Além disso, alertam, secundados por uma plêiade de - ô palavra que não diz nada! - analistas, há o risco de a inflação voltar com tudo. O fim dos tempos.
Há também o caso dos juros. A vida toda ouvi esse pessoal que diz entender de economia - sou apenas um jornalista, aviso, nada sei sobre os mistérios de uma "ciência" cujas teorias se contradizem a todo instante - que o problema do Brasil era a taxa de juros alta, a maior do mundo, que aqui era o paraíso dos especuladores, que apenas o sistema financeiro se beneficiava dessa situação, que era impossível nós  chegarmos a fazer parte do time principal se continuássemos nesse caminho.
Pois bem, o governo tem feito o possível para que os juros caiam a um nível civilizado, para que o chamado "setor produtivo" - nós blogueiros, evidentemente estamos fora dele - saia investindo mundos e fundos, exerça todo o seu potencial, se aproveite das benesses do capitalismo, crie empregos e faça a roda da economia girar como nunca.
O que vemos, porém, é, de um lado, o dos banqueiros e aliados, grande parte da imprensa incluída, críticas e mais críticas em relação ao processo, notícias e mais notícias dando conta das dificuldades de baixar o juro bancário, de as empresas emprestarem, de qualquer um de nós, cidadãos comuns, sairmos dos bancos com um crédito pessoal sem a sensação de que estamos caminhando para o precipício.
Do outro lado, o principal beneficiado pela queda dos juros, o setor industrial, está mudo, caladinho, como se nada estivesse acontecendo no país, fingindo que nada mudou, que tudo o que se faz hoje no vasto campo da macroeconomia não é com ele, não é para que produza mais, venda mais, contrate mais funcionários. Em vez de se juntar ao governo numa ampla campanha para que o país enterre de vez a cultura dos juros altos, as principais lideranças empresariais optam pelo elogio envergonhado, ou então pelo silêncio puro e simples.
Ah, mas o governo fez pouco, é preciso cuidar ainda da redução do "custo Brasil", tem de diminuir os impostos, simplificar a burocracia, investir na infraestrutura, cuidar das estradas, dos aeroportos, dos portos, do transporte público, da educação, da saúde, do ambiente, da energia elétrica, da habitação, de tudo, enfim, dizem esses Viscondes de Mauá contemporâneos, homens de visão extraordinária e  notável brasilidade.
Por essas e por outras, não tenho dúvida nenhuma de que se não fosse por eles o Brasil não seria hoje tudo o que é.

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