segunda-feira, 7 de maio de 2012

Dúvidas e temores

Hollande: conservadores estão preocupados
A vitória do socialista François Hollande na eleição presidencial da França leva esperança ao seu país e lança dúvidas nos vizinhos, especialmente a Alemanha, que tem liderado o esforço de recuperação da combalida Europa, sob a inspiração conservadora. Os analistas vão agora se debruçar, antes de sua posse, sobre a sua plataforma de governo, para tentar decifrar seus passos assim que tomar o poder. A Deutsche Welle, agência oficial de notícias da Alemanha, não perdeu tempo. Já publica hoje, em seu site, matéria sobre o novo presidente francês. Intitulada "François Hollande: o soldado do partido que chegou à presidência", a reportagem procura traçar não só uma biografia do político, mas principalmente adivinhar o que fará no governo.
Os alemães estão preocupados, embora não digam nada explicitamente.
A matéria vai a seguir, na íntegra:

Há um ano quase ninguém na França poderia imaginar que o novo presidente do país se chamaria François Hollande. O socialista de 57 anos era visto como um pessoa sem graça, dono de uma personalidade pálida e de pouco peso político. 
A situação começou a mudar para Hollande quando o ex-chefe do FMI Dominique Strauss-Kahn, o candidato favorito dos socialistas, envolveu-se num escândalo sexual com uma camareira, num hotel em Nova York. Na disputa interna, Hollande acabou emergindo como o candidato dos socialistas, um candidato que era, ao mesmo tempo, o oposto de Strauss-Kahn e também do presidente Nicolas Sarkozy. 
Até aquele momento, Hollande era o típico "soldado do partido", um político que havia feito carreira servindo ao Partido Socialista e que nunca ocupara um cargo de ministro. Em 2008, quando, após 11 anos, foi substituído por Martine Aubry na chefia do Partido Socialista, a sucessora definiu o estado do partido como deplorável. A ex-companheira de Hollande, Ségolène Royal, foi ainda mais dura: "Os franceses são capazes de citar alguma coisa que ele tenha realizado em seus 30 anos de vida política?" 
Hollande soube transformar seus pontos fracos em qualidades. Ele não criou uma euforia em torno de si, mas sua estratégia de se apresentar como o oposto do impopular Sarkozy surtiu efeito. O socialista não falou à emoção dos eleitores, mas à razão. Ele jogou com a sua timidez e cultivou uma imagem de cidadão comum, sem estrelismos, que sabe ser bem-humorado quando está numa roda de amigos. 
Começo da carreira 
A trajetória política de Hollande foi irregular desde o início. Em 1981, quando os franceses pela primeira vez elegeram um socialista para a presidência – François Mitterrand – o partido enviou Hollande, então com 26 anos, para o interior. O jovem político deveria lutar por um mandato como deputado justamente no círculo eleitoral de Jacques Chirac, no departamento rural de Corrèze, no centro da França. Ele não teve chance alguma. 
Entretanto, ao longo dos anos, o graduado pela prestigiada Escola Nacional de Administração conseguiu o respeito da população rural. Após uma reformulação das regiões eleitorais, Hollande conseguiu – ao mesmo tempo que Sarkozy, com quase a mesma idade que o socialista – ingressar na Assembleia Nacional, em 1988. Desde então, os caminhos dos dois políticos, ambos criados no nobre subúrbio parisiense de Neuilly, cruzam-se regularmente. 
Contexto europeu 
O programa eleitoral de Hollande, intitulado 60 compromissos com a França, é vago. Mas o socialista moderado fez algumas concessões para as diversas alas do seu partido. A proposta de renegociação do recente pacto fiscal da União Europeia causou sensação. Num discurso que despertou atenção, ainda no início da campanha, Hollande exigiu da Alemanha "mais solidariedade". 
Para o cientista político parisiense Renaud Dehousse, são slogans que Hollande direciona ao eleitores franceses e não ao exterior. No primeiro turno, cerca de um terço deles votou em partidos populistas, que exigem o fim do euro e são a favor do protecionismo à indústria e ao mercado local. 
"Por que Hollande usa a palavra 'renegociação'? Porque ele sabe exatamente que, entre os eleitores que podem votar nele no segundo turno, há muita gente que votou contra uma Constituição Europeia no referendo de 2005", considera Dehousse. 
Nada sobre corte de gastos 
Dehousse afirma que Hollande não é um antieuropeu. O próprio currículo do socialista mostra o contrário, com seu trabalho ao lado de Jacques Delors, fervoroso defensor da ideia europeia. Além disso, Hollande votou a favor da Constituição Europeia em 2005, apesar de poderosas facções do partido serem contrárias a ela. 
Para Dehousse, Hollande não somente se dedicou à causa europeia, como também pertence aos raros franceses partidários da integração supranacional, conforme o previsto pelos fundadores da União Europeia. "Na minha opinião, isso é muito importante. Caso ele seja eleito, os alemães terão de lidar com um chefe de Estado francês que está muito mais próximo das clássicas posições alemãs sobre uma política comunitária do que seu antecessor", diz o cientista político.
Internamente, Hollande ganhou pontos com a promessa de criar 60 mil novos postos de trabalho para professores, recuar em parte a reforma previdenciária iniciada por Sarkozy e adotar um imposto para milionários de 75%. O dinheiro para bancar tudo isso deverá vir de uma forte recuperação econômica – que nenhum especialista até agora conseguiu prever –, pois também Hollande é a favor de um orçamento equilibrado. 
Porém, dada a situação econômica calamitosa e por causa da pressão dos mercados financeiros, observadores afirmam que, como presidente, Hollande terá de deixar de lado ao menos algumas das suas promessas eleitorais e encontrar respostas para uma questão que até agora deixou em aberto: os cortes nos gastos do Estado.

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