quarta-feira, 18 de abril de 2012

A soberania argentina

 Cristina Krichner: exemplo de coragem           (Marcello Casal Jr/ABr)

A decisão do governo argentino de retomar o controle da petrolífera YPF, que havia sido comprada pela espanhola Repsol no processo de privatização promovido pelo governo Menem, reabre a discussão sobre a política de liquidação do Estado adotada pelos governos neoliberais do continente, seguindo os mandamentos  do Consenso de Washington.
A pergunta que todos fazem, ainda perplexos com a atitude dos argentinos, é: qual será a reação dos espanhóis e de outros governos ainda alinhados ao pensamento de direita sobre essa reestatização?
Claro que para eles a medida adotada por Cristina Kirchner foi uma brutalidade inconcebível. Vão alardear tal posição por todos os cantos, usando todos os meios de comunicação, todos os instrumentos possíveis - e a gente sabe que existem muitos que estão dispostos a transformar o ato de soberania da Argentina numa simples agressão contra a propriedade privada.
Outros dirão que Cristina Kirchner é apenas mais uma populista sul-americana, uma aprendiz de Hugo Chávez, que fez o que fez porque seu país atravessa grave crise econômica, social e política.
São todos argumentos primários, usados só para satisfazer a parcela da opinião pública que ainda acha que a salvação do mundo consiste em mantê-lo sob a direção dos interesses do capital, perpetuando essa ignóbil divisão entre pobres e ricos, entre explorados e exploradores, que tem movido a humanidade - para a sua total infelicidade.
Mas são gestos como o do governo argentino, mínimos se colocados sob a perspectiva da história, que podem apontar para uma outra direção.
De fato, se a gente olhar para os fatos recentes que têm ocorrido nesta América Latina tão devastada em suas riquezas e em sua cultura, é possível ver que algo de novo ocorre por aqui, com governantes que deixaram de receber ordens dessas corporações multinacionais que compram de tudo - consciências, inclusive - e passaram a olhar para quem na verdade importa, o povo humilde e massacrado que é a razão de existirem países, Estados e governos.
O que o governo de Cristina Kirchner fez não foi só uma declaração de independência, um aviso para todos os espoliadores seculares que têm pilhado esta parte do continente. O que o governo argentino fez foi dar mais esperança a todos os que pretendem viver num mundo em que o capital seja apenas um meio para tornar a vida ao menos aceitável - e não o seu fim.

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