terça-feira, 15 de novembro de 2011

Brincando com fogo


O presidente Barack Obama, revelam os jornais, deu uma dura no seu colega francês Nicolas Sarkozy pelo fato de ele ter sido favorável ao ingresso da Palestina na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a Unesco. Segundo o americano, com o ingresso dos palestinos na entidade, os Estados Unidos foram obrigados a cortar a ajuda financeira que prestam a ela. E, na sua opinião, a paz entre judeus e palestinos só será conseguida por meio de negociações entre eles e nunca por intermédio da ONU.
As afirmações de Obama não apresentam mais nenhuma novidade e apenas reforçam a impressão de que ele, que ascendeu à presidência americana cercado de muitas esperanças de fazer uma política externa diferente dos antecessores, se mostrou, na realidade, exatamente igual a todos, sem, em nenhum momento, abandonar o estilo do "big stick" que sempre marcou a relação dos Estados Unidos com os outros países.
Na questão do Oriente Médio, então, Obama tem caprichado. O apoio incondicional à política expansionista e bélica de Israel pode levar a qualquer coisa, menos à paz na região. Outras ações, como o suporte das ditaduras autocráticas do Golfo Pérsico e à invasão da Líbia usando o pseudônimo de Otan condizem com toda a história americana de potência imperialista. 
A cereja no bolo da administração Obama nessas questões externas, porém, é o relatório da AIEA, a Agência Internacional de Energia Atômica, que viu "indícios" de que o governo iraniano desenvolve um programa nucelar com fins militares. O documento é altamente suspeito e há quem diga que não passa de uma peça política com a finalidade de proporcionar a Israel e aos Estados Unidos o pretexto para atacar militarmente o Irã, uma enorme pedra no sapato dos dois países. 
Para quem acha que isso não passa de mais uma teoria da conspiração, é bom recordar o caso recente do "enorme" arsenal de armas químicas de Saddam Hussein, o estopim para a invasão do país. O problema é que até agora não se achou ali nada parecido com uma arma química.
Acontece que o Irã não é um paiseco qualquer. Embora suas Forças Armadas não tenham condições de se igualar às de Israel ou as dos Estados Unidos, seus mísseis são modernos o suficiente para atingir as cidades israelenses ou as bases americanas na região. Sua Força Aérea é bem treinada e conta com pelo menos algumas dezenas de jatos operacionais e a Marinha tem capacidade para bloquear as águas do golfo e impedir o escoamento  de uma grande quantidade de petróleo. Um ataque às instalações atômicas do Irã, semelhante ao que Israel fez ao Iraque em 1981, teria consequências gravíssimas.
Sobre o assunto, o sempre lúcido Fidel Castro fez um alerta preocupante, na última de suas "Reflexões":
"O insólito é que logo que a Otan deu por concluída a operação na Líbia – depois do ataque aéreo que feriu o chefe constitucional desse país, destruiu o veículo que o transportava e o deixou à mercê dos mercenários do império, que o assassinaram e o exibiram como troféu de guerra, ultrajando costumes e tradições muçulmanos, a AIEA, órgão das Nações Unidas, uma instituição que deveria estar a serviço da paz mundial, lançou o informe político, carimbado e sectário, que põe o mundo à beira da guerra com o emprego de armas nucleares que o império ianque, em aliança com a Grã-Bretanha e Israel, vem preparando minuciosamente contra o Irã."
É de dar medo. Nossa esperança é que o velho líder, que já fez tantas análises certas, esteja errado desta vez.

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