quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Aberração


Muitos jornalistas têm uma visão completamente diferente da minha a respeito da imprensa brasileira. Acham, por exemplo, que essa história de partidarismo é uma balela, que os jornais, quando denunciam os malfeitos do governo petista, estão apenas cumprindo a sua solene missão de informar o público. Dizem ainda que se não houvesse a maracutaia, ela não sairia nas manchetes.
Eles bem que poderiam ter razão se isso valesse para todos, ou seja, se os trambiques dos amigos dos donos dos jornalões também fossem elevados à condição de notícia e publicados com o mesmo espaço, com a mesma ênfase, com a mesma voracidade com que eles se dedicam às tramoias dos inimigos.
Quando isso não acontece, o jornalismo não existe. Ou, sendo ainda mais benevolente com esse pessoal, quando até o famoso "outro lado" da história é ignorado, o jornalismo é aviltado, é rebaixado à condição de um mero instrumento ao serviço da difamação, da calúnia, da injúria, do insulto e da agressão.
Faço questão de avisar a todos os frequentadores deste espaço que não acredito em jornalismo imparcial e muito menos que pretendo fazer deste um blog "jornalístico".
Prezo muito o meu ofício para ter tal pretensão. Assim como, desde há muito tempo, compreendi que nada que é feito pelo homem pode ser desprovido de emoção ou de sentimento, e, portanto, sempre será algo parcial, pois carrega a visão pessoal de seu autor.
Por isso até entendo esse desvio de suas funções que a imprensa nativa vem aprofundando nessas últimas décadas, torcendo e distorcendo os fatos ao seu bel-prazer, arruinando reputações e vidas, acusando sem provas seus inimigos e poupando de qualquer crítica seus amigos, fazendo, enfim, as vezes de uma oposição política sem rumo, sem bandeira e sem votos.
E até por saber disso é que, a cada dia, mais fico convicto de que o Brasil não será uma verdadeira democracia enquanto seus governantes não resolverem enfrentar com coragem essa monstruosa e cada vez mais poderosa aberração que se tornou a imprensa, que, para funcionar como qualquer outro órgão civilizado, deve se submeter às leis e aos regulamentos que regem a sociedade.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo! Reflete exatamente o que penso.

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  2. Uma andorinha sozinha não faz verão. Pra que haja "massa crítica", é preciso que muitos
    como você tenham voz, e que jornalistas como Caco Barcelos e PHA, por exemplo, que transitam na grande mídia, possam continuar falando sem serem punidos pelo patrão. O marco regulatório para a mídia, tão atacado por ela, precisará ser estudado com carinho pelas nossas lideranças políticas, se pretendemos de fato ser um país verdadeiramente democrático. Apoiado! E que muitas vozes como a sua venham a público.

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