quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Dia do Carro


São Paulo deveria, para ser coerente com a sua história, ignorar este Dia Mundial sem Carro. As autoridades da cidade, em vez de dar declarações demagógicas sobre a iniciativa, se tivessem um mínimo de vergonha na cara, convocariam os jornalistas para dizer algo mais ou menos assim:
- Aqui, não! Construímos esta cidade para os carros, adoramos essa máquina que mata ou fere dezenas de milhares de pessoas por ano, que solta milhões de toneladas de porcaria na atmosfera, que entope as vias públicas, que causa estresse e doenças em seus motoristas, e, portanto, não venham com essa história de dia sem carro! 
Diriam mais: que bilhões de reais foram gastos para construir avenidas, pontes e túneis unicamente para serem usados por automóveis; que, devido a essas obras, milhares de pessoas foram mandadas embora de suas casas; que boa parte desse dinheiro todo foi desviado para os bolsos sem fundo de integrantes das gangues que vivem de se locupletar com o dinheiro público.
E, para encerrar, num tom emocionado, pois o momento é sério, completariam:
- E não devemos esquecer que, elegendo o automóvel como o mais importante personagem desta metrópole, obrigamos o zé povinho, esse pessoal que é obrigado todo dia a viajar dezenas de quilômetros para trabalhar, para estudar, para ganhar as suas vidas miseráveis, a perder horas e mais horas em ônibus desconfortáveis, sujos e perigosos, ou em vagões de metrôs superlotados, verdadeiras latas de sardinhas.
Dito isso, os jornalistas, tudo devidamente gravado ou anotado, iriam para o conforto de suas redações - de carro, é claro - e escreveriam os press releases habituais.
E o caos viário continuaria para todo o sempre.

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