domingo, 18 de setembro de 2011

E viva o cartel!


O governo cedeu rapidamente ao lobby das montadoras e praticamente tornou inviável no Brasil a operação das importadoras de veículos que não têm fábrica no país. O pacote protecionista, que exige, entre outras coisas, que 65% dos componentes do carro sejam nacionais para que a atual alíquota de IPI seja mantida, foi o presente de Natal antecipado que toda a cadeia automotiva brasileira esperava.
Como sempre, o cartel das montadoras jogou pesado. Contou com a ajuda do forte e importante sindicato de metalúrgicos do ABC, com uma sólida rede de jornalistas "especializados" infiltrada em vários órgãos de comunicação, e com a imprensa em geral, que, sem nenhum espírito crítico, reproduziu ipsis literis, diariamente, as previsões apocalípticas e as queixas de sempre dos bem remunerados executivos do cartel.
Numa demonstração de que o pacotão foi feito nas coxas, apenas para beneficiar um setor produtivo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse, na coletiva de imprensa em que divulgou as medidas, que o governo estava preocupado com as "notícias de jornal" que diziam que os pátios das montadoras estavam lotados. Ora, tomar uma decisão dessas, que pode afetar centenas de milhares de pessoas que trabalham para os importadores, com base em "notícias de jornal" é, no mínimo, um sinal de irresponsabilidade. Indo além, o fato pode ser considerado uma prova inequívoca de incompetência.
A propalada invasão de veículos importados não passa de uma ficção. Pelo menos por enquanto. No total, os importados têm cerca de 25% do mercado brasileiro, mas dessa fatia, 75% é de responsabilidade das próprias montadoras, que se aproveitam do regime automotivo especial do Mercosul e do acordo com o México para trazer ao país vários modelos que são apresentados ao distinto público como "made in Brazil".
Ou seja, os maiores importadores são os quatro grandes - Fiat, Volks, GM e Ford - que dominam cerca de 70% do mercado brasileiro e impõem ao pobre consumidor os preços mais altos do planeta para produtos inseguros, de tecnologia atrasada e muito, mas muito, mal feitos.
No mês passado, que teve média de venda diária de 13 mil veículos, foram vendidos apenas 9 mil carros chineses. O número, convenhamos, não reflete nenhuma "invasão".
A chiadeira toda do cartel foi por um motivo mais simples: o medo da concorrência, que pode, num determinado momento, derrubar os altos lucros que vem obtendo. As montadoras querem simplesmente impedir, desde já, que haja qualquer mudança no mercado. Sabem que os chineses não brincam em serviço, têm planos ousados para o Brasil e poderiam, em condições normais de competição, abocanhar um bom pedaço das vendas.
O resto do discurso - preservar empregos, garantir a sobrevivência da indústria "nacional" - é pura cascata, conversa mole, papo furado. No fim da história, a conta, como sempre, sobra para o coitado do consumidor, que vai continuar com a sina de ter de comprar os piores carros do mundo pelos preço mais altos do universo.

2 comentários:

  1. Motta, presto serviço para uma importadora, marca de carros de luxo. E a sua análise é perfeita. Parabéns.

    Por motivos óbvios, prefiro não me identificar. Mas você deve saber quem escreve...

    Abraços!

    Luiz

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  2. Parabens . É por isso que só me informo pelos blogs "sujos" , pois aqui vemos a lógica do consumidor e não do anunciante , aquele que paga a matéria para defender seus interesses .

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