terça-feira, 9 de agosto de 2011

A corrida dos lemingues


Os últimos desdobramentos desse segundo round da crise econômica mundial dão inteira razão a quem acha que a estupidez humana não tem limites.
Uma agência de classificação de riscos completamente desacreditada foi capaz de fazer as bolsas de valores de todo o mundo viver um dia para se esquecer.
Claro que as notícias sobre o desempenho fiscal de alguns países da Eurolândia e dos Estados Unidos já estavam fazendo os investidores olhar desconfiados para suas aplicações, mas o que se viu na segunda-feira foi algo que supera qualquer noção do que seja a irracionalidade.
Delfim Netto, economista que está milhares de anos-luz de expressar um grão de simpatia por ideias da esquerda, homem umbilicalmente ligado ao pensamento capitalista, expressou de maneira irretocável as cenas da segunda-feira, em artigo que escreveu para o "Valor":
"Houve novidade na última semana? Nenhuma! Talvez apenas a confirmação que a 'racionalidade' dos agentes no mercado é a mesma dos carneiros de Panurge, o célebre personagem criado por Rabelais: tendo sido um deles jogado ao mar, foi fielmente seguido pelos outros. O mercado é a 'manada'. É a 'imitação'. É o contágio. É a busca da segurança na insegurança: todos seguem todos, supondo que o vizinho sabe o que está fazendo. Aliás, foi aquele o exemplo dado pelo maior matemático do século XIX, Henry Poincaré (1854-1912), para não dar o grau máximo à tese de Louis Bachelier, o criador da economia financeira, cujo elegante modelo supunha que o comportamento dos agentes fosse independente..."
É isso. O mundo, bilhões de pessoas, bilhões de sonhos e esperanças, toda uma intrincada rede de relações sociais e econômicas, o próprio futuro da humanidade, depende, em última instância, dos humores desse tal de "mercado", essa entidade incorpórea, essencialmente deletéria, que não tem escrúpulos de fazer unicamente o que só a ela interessa, só a ela dá lucros, e, pior de tudo, quando frente a um problema age como uma manada descerebrada, como lemingues que se jogam no mar no fim de uma longa viagem.
E nesse oceano de insensatez, quando mais se precisa de lideranças fortes, firmes, que saibam separar a  ficção da realidade, o que se vê é simplesmente um bando de homens frouxos, mergulhados até o pescoço  nos dejetos deste pantanal de iniquidades que ajudaram a criar e, com zelo inestimável, preservam.

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