quarta-feira, 15 de junho de 2011

A farsa oficial

O comércio de Serra Negra agradece e dá boas-vindas ao Brasil real

Novamente evoco mestre Ariano Suassuna, que divide o Brasil em dois, o real e o oficial, para me livrar de qualquer resquício de pessimismo sobre o futuro de nossa terra. Ariano fala com propriedade sobre essa dicotomia, pois dedicou toda a sua vida a mostrar a superioridade do Brasil real sobre o oficial - o primeiro, criativo e operoso; o segundo, caricato e ocioso.
Bastou uma viagem de duas centenas de quilômetros, semana passada, rumo ao interior do Estado, para ver como mestre Ariano tem razão. 
As estradas, lotadas de caminhões, são exemplo claro que a economia, que tanto preocupa os "analistas" oficiais, vai muito bem e não precisa de tutores que digam o que as pessoas devem ou não fazer.
Na pequena Serra Negra, no fim de semana gelado, o comércio exibia uma pujança de dar inveja a qualquer desses locais cosmopolitas tão badalados: a rua principal da cidade, onde se concentram as lojas de roupas, estavam praticamente intransitáveis para pedestres e veículos. Os bares e restaurantes tinham fila de espera, os hotéis centrais estavam cheios.
A 60 quilômetros dali, na mineira Jacutinga, que abria seu 34º Festmalhas, os turistas e sacoleiros também enchiam as ruas do centro. Jacutinga, do mesmo tamanho de Serra Negra, com cerca de 25 mil habitantes, é um dos mais importantes polos têxteis do país, concentrando cerca de 30% da produção de peças de tricô e malha. 
Alguns comerciantes serranos, surpresos com o movimento de turistas, que chegou a congestionar a entrada da cidade, perguntavam sobre a solidez deste momento econômico do país:
- Será que as pessoas vão ter como continuar comprando a crédito? - indagava um.
- Está muito fácil comprar um imóvel ou um carro - dizia outro, desconfiado.
Ambos, porém, exibiam uma expressão de felicidade enquanto expunham suas dúvidas e temores. Tampouco se lembraram de comentar as mudanças ministeriais, o efeito Palocci sobre a popularidade do governo Dilma, e outras fofocas dos poderosos, tão queridas da nossa imprensa.
Afinal, o Brasil real estava ali, ao seu redor, soterrando com sua força todo o blá-blá-blá desse pessoal que exibe títulos e comendas com o fim de ludibriar o público, maquiando seus desejos para transformá-los em "análises" sérias e profundas.  

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