terça-feira, 12 de abril de 2011

Lição chinesa


Dez entre dez empresários brasileiros culpam o real sobrevalorizado como causa única de seus infortúnios no mercado internacional. Segundo eles, o dólar fraco tira toda a competitividade dos exportadores, e, num movimento contrário, facilita a entrada no país de todo tipo de produto, destruindo as indústrias locais e dizimando com os empregos.
Numa entrevista que deu a Alex Ribeiro, do "Valor", Yu Yongding, ex-membro do comitê de política monetária do Banco Popular da China, e hoje pesquisador do Instituto de Economia Mundial e Política, diz que as coisas não são bem assim:
Valor: Quando a China resiste à pressão pela valorização de sua moeda em relação ao dólar, outros países com regimes de câmbio flexível, como o Brasil, acabam sendo prejudicados?
Yu Yongding: Essa é a teoria, e não vou dizer que a teoria é totalmente ilógica. Mas você precisa ter uma evidência específica que me mostre as interligações entre o sistema cambial chinês e a valorização da moeda brasileira. É preciso demonstrar uma casualidade específica. Se você falar em teoria, não posso negar, porque é algo teoricamente possível, mas a relação entre uma coisa pode ser bem fraca. Se você sustenta esse argumento, tem que mostrar as evidências. Mostre-me a casualidade.
Em outro trecho da entrevista, Yu dá a receita para os nossos industriais chorões:
"O Brasil é um grande país, com uma base industrial bastante sólida. Está inteiramente dentro do alcance do Brasil dirigir o crescimento para o setor de manufaturados, deslocar atividades dos recursos naturais para manufaturados. O setor aeronáutico brasileiro é bem sucedido. O Brasil exporta aviões para a China. Se o Brasil conseguir produzir mais desse tipo de bens, poderá exportar para a China. Não há problema. A questão é diversificar as atividades econômicas. Essa é a política correta, e o Brasil deve fazer isso."
Yu Yongding pode não estar 100% certo no que diz. Mas suas afirmações são instigantes, pois partem de alguém que acompanhou de perto o "milagre chinês".
Em outras palavras ele diz simplesmente o seguinte: "Parem de reclamar do câmbio e trabalhem."
Não é possível que a indústria brasileira, diversificada como é, com ilhas de excelência e alta tecnologia, não seja capaz de satisfazer as imensas demandas do mercado chinês - e de outros países.
Claro que a China teve todas as facilidades possíveis para levar seu parque industrial ao que é atualmente. O caminho não foi fácil, porém.
Falta ao empresário brasileiro, principalmente, a humildade para tentar entender o dinamismo do mundo de hoje e a lógica da competição global.
O movimento cambial é apenas um componente dessa sofisticada engrenagem. Importante, mas não essencial.

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