sexta-feira, 29 de abril de 2011
Fogos de artifício
Nem imagino o número de pessoas que acompanharam hoje cedo, em todo o mundo, o casamento do príncipe inglês com a "plebeia". A extensa cobertura da imprensa ao acontecimento mostra que o ser humano, por mais que as relações sociais tenham se sofisticado ao longo do tempo, não resiste ao charme dos poderosos, ou, neste caso, à pompa e circunstância da casa real britânica.
Nada mais natural. Afinal, desde séculos infindáveis o homem se acostumou a viver à sombra de um rei, a forma mais primitiva de organização social, que resiste até hoje, como se vê, até mesmo em países ditos do Primeiro Mundo. A Europa está cheia de realeza, gosta mesmo de manter seus "nobres", como se eles fossem um símbolo dos anos dourados em que, daquele pedaço do mundo, eram proferidas todas as sentenças capitais para a humanidade.
A indústria do entretenimento, por outro lado, se encarregou de manter viva na imaginação das pessoas a imagem açucarada e romântica da vida da realeza. Quantos filmes, por exemplo, já foram feitos para mostrar o amor "proibido" do príncipe pela jovem plebeia? E algum deles, por acaso, teve um final infeliz?
Não é de se estranhar, portanto, que o casamento real da Inglaterra tenha sido o sucesso estrondoso que foi. Ele, porém, não será capaz de esconder o fato de que o país passa hoje por uma grave crise econômica e se encaminha a passos largos ao rebaixamento à segunda divisão da liga das nações - isso só não ocorreu ainda graças ao seu engajamento automático a todas as causas defendidas pelos Estados Unidos, que protege como pode o velho e decadente parente.
Não sei se hoje de manhã, enquanto os jovens noivos cumpriam seu longo ritual e procuravam demonstrar ao público que carregavam toda a felicidade do mundo, as bombas inglesas haviam dado uma trégua aos miseráveis habitantes da Líbia. Se formos julgar o caráter de um povo pelo seu hábito de, diariamente, interromper suas tarefas para tomar uma xícara de chá a determinada hora do dia, isso pode até ter acontecido. Sorte dos líbios, então.
E azar do resto do mundo, que tapa os ouvidos aos terríveis sons da metralha para poder ouvir os estampidos fugazes dos fogos de artifício.
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