Força bruta

Nem sei se a comparação é válida, mas ao ver as imagens de jovens sangrando, depois de terem sido espancados pela nossa valorosa Polícia Militar, simplesmente porque se manifestavam contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo, me lembrei dos monstruosos atos de protesto no Cairo, com o Exército placidamente observando a multidão.
São Paulo, como se sabe, é um feudo de partidos políticos que se dizem progressistas, liberais, tolerantes, democráticos, enfim. Isso há muito tempo.
Como explicar, então, que a polícia que tem sob as suas ordens seja essa que vemos diariamente atuando nas ruas, violando com tanta desenvoltura os direitos humanos mais elementares dos cidadãos, sistematicamente ignorando as mais básicas noções de cidadania, agindo com inteira liberdade na repressão de qualquer um que se manifeste contra as decisões dos "poderes constituídos"?
Como pode São Paulo, com a sua importância econômica e social para o Brasil, manter uma instituição que confunde a manutenção da ordem pública com o uso da violência brutal, estúpida e desumana?
Será que as nossas autoridades não percebem que é preciso, imperativo, construir uma nova força policial que reflita o momento democrático que o país vive?
Até quando o pobre paulistano vai ter mais medo desses homens do que dos bandidos que eles deveriam perseguir?
Até quando essa filosofia "militar", arcaica, dos tempos sombrios da ditadura, vai imperar na força policial?
E, até quando a imprensa, essa instituição que se diz o maior agente fiscalizador dos poderes públicos, vai assistir, complacente, inerte e submissa ao desenrolar desse absurdo teatro de iniquidades?