quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Questão de prioridade


Uma das funções mais difíceis do jornalismo é a edição. Requer um profissional que tenha uma visão de todo o processo do trabalho e, principalmente, que seja capaz de estabelecer prioridades: às vezes tem à sua disposição material para duas páginas e só dispõe de uma para publicá-lo. A decisão é sua: vai espremer todas as notícias ou vai dar prioridade a algumas que julga as mais importantes? Se a segunda opção for a escolhida, terá ainda de escolher qual será a manchete, qual virá abaixo dela, a disposição das outras na página, como vai ilustrar os textos, os títulos, as legendas, o corte das matérias...
O exemplo acima ilustra o que se passa em São Paulo. As enchentes que causam dezenas de mortes e infligem sofrimento a milhões de pessoas poderiam ser bastante reduzidas se os governantes do Estado e da capital tivessem decidido que deveriam fazer obras para combatê-las. O fato é que isso nunca foi uma prioridade para eles.
São Paulo é um feudo tucano há quase 20 anos. Caberia a eles, portanto, terem se decidido que a capital do Estado não passasse, todos os anos, por esse período de caos quando chega o verão. Sempre houve recursos de sobra para tocar um conjunto de ações para esse fim. O que nunca houve foi vontade de fazer isso - essas ações nunca foram a prioridade dos governantes.
As declarações do governador Geraldo Alckmin na terça-feira são dignas de integrar o vasto bestialógico político nacional. "Uma obra não se faz em um dia", ensina. Uai - perguntaria o mineirinho -, se ele sabe disso, por que então já não as fez quando governava o Estado?
A outra pergunta que faria esse nosso personagem imaginário é sobre quais foram então as prioridades dos  ex-governantes do mais poderoso, mais rico, mais populoso Estado da federação.
Difícil responder, a julgar por quantas andam a educação, a saúde, a violência, os transportes, a falta de moradia, a falta de limpeza urbana, o preço da tarifa dos ônibus etc etc.
Talvez a prioridade tenha sido apenas controlar o caixa, dominar a informação, pedagiar as estradas...
Afinal,  as enchentes só acontecem uma vez por ano.

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