terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Travessia

A quatro dias de deixar o cargo que ocupou por oito anos, o presidente Lula tem sido protagonista de todo o tipo de avaliação, por todo tipo de especialista, desde o mais sério pesquisador até aquele mais ferrenho adversário - ou inimigo. No geral, ele sai bem avaliado, se bem que, no caso de seus críticos, eles prefiram destacar mais os defeitos do presidente e os erros de sua administração do que as suas virtudes.
Fui um dos que depositaram no governo Lula as maiores esperanças de mudanças no Brasil. Não vi todas as minhas expectativas atendidas, mas pelo menos tenho hoje a convicção de que vivo num país menos desigual social e economicamente, mais respeitado internacionalmente e, principalmente, com quase tudo pronto para se tornar, em poucos anos, uma das grandes potências do mundo.
O governo de Dilma Rousseff não deverá ser apenas uma continuação da era Lula. Se Lula é um político altamente intuitivo, Dilma é cerebral; se Lula é um negociador incansável, Dilma tem uma liderança mais impositiva. São personalidades diferentes, complementares entre si, mas com uma visão política bem aproximada: em ambos existe um desejo quase obsessivo de trabalhar pelos mais humildes, os despossuídos, os mais fracos.
E essa, a meu ver, foi a maior diferença entre os governos Lula e FHC. Enquanto para o tucano as políticas sociais eram tão somente um complemento de seu plano de transformar o Brasil numa sociedade capitalista moderna, à base do enxugamento do Estado, o petista aproveitou a força do Estado para avançar as políticas sociais de modo até então nunca visto.
O resultado aí está: uma nova classe média formada por dezenas de milhões de pessoas, a construção de um mercado consumidor tão robusto que foi capaz de fazer o país atravessar a mais grave crise econômica que o mundo viu em décadas de forma tranquila e rápida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário