segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Trilhos para o futuro

O governo federal resolveu adiar por uns meses a licitação do trem de alta velocidade, o TAV, ou simplesmente trem-bala, que ligará Campinas ao Rio. O adiamento se deve aos pedidos de várias empresas, que disseram não ter tido tempo hábil para formar os consórcios que disputarão o leilão. A obra é bilionária, inédita no país, e talvez por isso desperte tantas críticas.
O trem-bala vem recebendo bordoadas de todos os cantos. Editoriais dos jornalões, políticos de oposição, prefeitos, ecologistas, "especialistas" dos mais variados temas insistem em dizer que a ferrovia é desnecessária, sem sentido, cara demais, enfim, que tem todos os defeitos do mundo.
Tudo bem, o trem-bala pode não ser uma prioridade para o país. Na área do transporte ferroviário, por exemplo, com o crescimento econômico, fazia mais sentido investir na infraestrutura para o escoamento dos produtos que o país exporta. O tal Ferroanel paulista está há mais de uma década em estudos, não sai do papel. Já no caso de passageiros, é evidente que os metrôs são mais que necessários para as grandes cidades.
Nem por isso, porém, o trem-bala deixa de ser um projeto importante. Em uso no mundo há cerca de 50 anos, já se revelou, em distâncias de até 650 km, mais eficiente, barato e rápido que o avião. Por isso é usado com tanto sucesso em países como o Japão, França, Alemanha, só para citar alguns, que substituíram grande parte do tráfego aéreo regional pela ferrovia de alta velocidade.
A China, com território equivalente ao do Brasil, dá hoje demonstração de que pretende fazer do trem-bala seu principal meio de transporte para médias e longas distâncias. Espertos, os chineses absorveram a mais avançada tecnologia disponível e agora não só fabricam seus próprios TAVs como os exportam.
Um dos detalhes do projeto brasileiro que tem passado despercebido pelos seus críticos é o traçado. O primeiro - porque há planos para outros - trem-bala brasileiro não vai ligar São Paulo e Rio, o corredor mais movimentado do país. Vai, sim, avançar para o interior paulista, até Campinas, sede de uma região de extrema importância econômica e muito populosa.
Ele começa no aeroporto de Viracopos, que será modernizado, passará por Campinas, irá até São Paulo, parará no aeroporto de Guarulhos, numa cidade do Vale do Paraíba (provavelmente São José dos Campos, também importante polo regional), Volta Redonda (ou Barra Mansa),para finalmente chegar no Rio. Ou seja, há muitos passageiros pelo caminho.
Toda essa discussão a respeito do trem-bala dá a impressão de que está se falando de um projeto de algo absolutamente fantástico, de outro planeta, muito além da capacidade de realização dos brasileiros. Ora, isso é uma tremenda bobagem: se Portugal, Espanha, Coreia do Sul e China têm os seus TAVs, porque o Brasil não pode construir a sua primeira linha? A economia brasileira é uma das dez maiores do mundo e caminha a passos largos para ficar entre as cinco primeiras. O país é hoje um dos destinos mais ambicionados pelos mais ricos investidores.
Se o projeto tem defeitos - e deve ter muitos - há tempo de sobra para corrigi-los e assim contentar, se não todos os interessados, pelo menos grande parte deles.
E o mais importante de tudo é que, apenas vencendo desafios desse tipo o Brasil vai superar um de seus maiores problemas: a síndrome de vira-latas que acomete boa parcela de sua população e a faz achar que estamos condenados a sempre sermos pobres e infelizes.
Para esse tipo de gente o trem adequado para o país é a barulhenta, poluidora, desconfortável, lenta, mas sempre saudosa Maria Fumaça.
Sendo assim, tchu tchu tchu e piuiií para eles!

Um comentário:

  1. Caro Motta,

    só um comentário sobre dizer que o trem bala é caro demais. É só ver o que se arrecada de pedágio em São Paulo por ano. O pedágiometro dá uma idéia disso
    http://pedagiometro.com.br/

    É da ordem de 5 bi por ano. Se o trem bala custar 50 bi (a previsão é de que seja 30 bi) os pedágios de São Paulo pagam em 10 anos. É quase que pagamento a vista numa obra desse porte.
    Abraços

    Luiz San Martin

    PS. Não tenho conta Google, por isso vai sair como anônimo, mas assinei meu nome.

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