Mario Monicelli pode não ter sido o melhor diretor de cinema do mundo, mas certamente foi o que mais me fez rir. E quando a gente ri, se sente mais vivo, mais humano, mais feliz.
Mario Monicelli tinha 95 anos, estava internado num hospital, vítima de câncer, e se jogou da janela. Foi um fim inusitado para um artista inteligente, fino, perspicaz, que emocionou plateias em todo mundo - isso porque as suas comédias não eram simples pastelões e sim retratos quase sem retoques de uma sociedade imperfeita, complexa e plena de emoções, como a italiana.
Monicelli dirigiu tantos filmes bons que nem ouso dizer qual o que mais gosto. Apenas que tenho indeléveis na memória cenas inteiras de Os Eternos Desconhecidos, O Exército Brancaleone, Brancaleone nas Cruzadas, Quinteto Irreverente, Meus Caros Amigos, Parente é Serpente, As Duas Vidas de Mattia Pascal e Romance Popular, entre os que lembro mais facilmente.
E os atores que dirigiu? Ugo Tognazzi, Vittorio Gassman, Marcelo Mastroianni, Philippe Noiret, Claudia Cardinale, Ornella Muti, Sophia Loren, Monica Vitti, Alberto Sordi - uma constelação de astros de primeiríssima grandeza, todos geniais. Sem contar o maior de todos, o nobre Antonio de Curtis, vulgo Totó, com quem, certamente, aprendeu grande parte dos segredos da profissão.
Há muitos clichês que expressam os sentimentos de perda dos admiradores de um artista da estatura de Monicelli. "É uma perda irreparável", dizem uns; "sua obra permanecerá para sempre", dizem outros.
Por mim, prefiro homenagear o mestre com o diálogo em que, pela primeira vez no Quinteto Irreverente, Lello Mascetti (Ugo Tognazzi) aplica a "supercazzola" em alguém - para quem não sabe, a supercazzola é o jeito mais fácil que o falido nobre Mascetti encontra para se livrar de situações embaraçosas:
E, para quem não entendeu nada, vai a transcrição:
Mascetti: Terapìa tapiòco! Prematurata la supercazzola, o scherziamo?
Vigile: Prego?
Mascetti: No, mi permetta. No, io... scusi, noi siamo in quattro. Come se fosse antani anche per lei soltanto in due, oppure in quattro anche scribài con cofandina? Come antifurto, per esempio.
Vigile: Ma che antifurto, mi faccia il piacere! Questi signori qui stavano sonando loro. 'Un s'intrometta!
Mascetti: No, aspetti, mi porga l'indice; ecco lo alzi così... guardi, guardi, guardi. Lo vede il dito? Lo vede che stuzzica? Che Prematura anche? Ma allora io le potrei dire, anche con il rispetto per l'autorità, che anche soltanto le due cose come vice-sindaco, capisce?
Vigile: Vicesindaco? Basta 'osì, mi seguano al commissariato, prego!
Perozzi: No, no, no, attenzione! Noo! Pàstene soppaltate secondo l'articolo 12, abbia pazienza, sennò posterdati, per due, anche un pochino antani in prefettura...
Mascetti: ...senza contare che la supercazzola prematurata ha perso i contatti col tarapìa tapiòco.
Perozzi: ...dopo...
É, não dá para fugir do lugar comum: o mundo perdeu mesmo um grande artista!
«La vita non è sempre degna di essere vissuta; se smette di essere vera e dignitosa non ne vale la pena".
ResponderExcluirOu seja: A vida nem sempre é digna de ser vivida; se deixa de ser verdadeira e digna, não vale a pena. Este comentário é de Mario Monicelli e foi feito a propósito do suicídio de seu pai, 64 anos antes do seu.
O pai, jornalista antifascista, fora demitido por perseguições políticas e, amargurado pela injustiça sofrida, se matou, com um tiro na cabeça.
O filho, então com 31 anos, ouviu o disparo e encontrou o corpo do pai, trancado no banheiro da casa da família.
"Ho capito il suo gesto", disse mais tarde.
Tomaso Monicelli havia denunciado o fascismo como responsável por perseguições e mortes de adversários, entre eles o affaire Mattetotti.