Sobre fadas e duendes

O péssimo desempenho de José Serra nesta campanha presidencial tem levado algumas pessoas a deduzir que ele vai desistir da disputa até o fim do mês.

Acho que não existe nenhuma possibilidade de isso ocorrer. Por dois motivos.

O primeiro é que uma desistência nesta altura do campeonato marcaria profundamente, de modo negativo, a vida política de Serra.

O segundo é que Serra e seus apoiadores, no fundo, no fundo, acreditam que a vitória ainda pode vir.

Tal crença, por mais absurda que pareça, é a principal razão para que Serra se mantenha no páreo. Ele, Marina Silva, estacionada há meses nos 8% das intenções de votos, e os nanicos, que nem chegam a 1%.

Isso porque em todos eles, mesmo nos que se dizem movidos apenas pela razão, existe arraigado um componente emocional muito forte, quase místico, uma voz interior que afirma que alguma coisa vai mudar o curso dos acontecimentos.

É como aquele torcedor fanático que acha que seu time ainda vai virar o jogo quando faltam apenas cinco minutos para o fim, graças a uma jogada magistral do atacante que não faz gol há não sei quanto tempo. Nada indica que isso vai ocorrer, mas o sujeito fica esperando que algum espírito baixe no perna de pau e ele tenha um momento de Pelé.

Depois, mais calmo, com a adrenalina em nível normal, o indivíduo reflete e vê que não tinha jeito mesmo e a goleada era irremediável.

Serra, Marina e os nanicos devem estar passando por isso. Veem que suas campanhas não decolam, por mais esforço que façam, mas acham que bastará apenas um golpe bem dado, um upper certeiro e seco no queixo, capaz de terminar a luta por nocaute, capaz de fazer milhões de eleitores mudarem de opinião em questão de horas.

É a tal da bala de prata de que tanto falam. Coisa de quem acredita em fadas e duendes.