sábado, 18 de setembro de 2010

Papel em branco

Comecei na imprensa ainda no tempo do linotipo, aquele monstrengo que expelia fumaça e chumbo para a composição das matérias.
Passei pela revolução da impressão off-set, pela chegada do computador às redações, que acabou com a revisão e aposentou as máquinas de escrever e as laudas.
Hoje, a pergunta "quantas linhas escrevo?" não tem nenhum sentido.
Nenhum desses garotos espalhados por aí sabe o que é uma lauda.
Não, não sou saudosista.
Apenas constato que, infelizmente, a evolução da imprensa brasileira ficou restrita apenas às máquinas.
Se elas hoje são muito mais velozes e eficientes que as do passado, quem as opera, porém, sofre de um mal que parece irremediável: a falta de sentimentos.
Pois parece que toda essa tecnologia afetou o jornalista, que deixou de ser, fundamentalmente, um humanista, um tipo meio renascentista, para virar um desses "especialistas" que se encontram às pencas por aí.
Eles sabem de tudo, respondem às mais complicadas perguntas sobre a sua especialidade, mas não têm alma, não têm paixão.
Eles não sabem sequer o que é uma lauda, esse papel em branco que podia ser preenchido com todas as dores e alegrias do mundo.

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