Por pura sorte troquei outro dia alguns minutos de conversa no cafezinho com uma das mais lúcidas analistas políticas de nossa imprensa. Foi o suficiente para que chegássemos à triste conclusão de que esta campanha eleitoral é a mais despolitizada que a gente já viveu.
De um lado, se a candidata da situação dá alguns indícios do que poderá ser o seu governo - uma continuidade do atual, principalmente no forte investimento em infraestrutura, reforço do mercado interno e pesada atuação social -, o outro lado permanece fechado num silêncio sepulcral sobre essas questões.
José Serra lembra a Esfinge da mitologia, a tal do "decifra-me ou te devoro".
Ele parece ter prazer em confundir seus eleitores e todos quantos possam se interessar por qualquer tema um pouco mais sério.
Quando toca num assunto desses, mostra o que antes a gente chamava de "cultura de almanaque", aquelas frases feitas que se encaixam em qualquer situação, um conhecimento superficial do assunto, o Conselheiro Acácio redivivo.
Depois que se viu atrás nas pesquisas, ele abandonou de vez o figurino do candidato propositivo e vestiu o do moralista indignado, o udenista dos anos 50, anticomunista feroz, um demagogo que não tem limites nas bobagens que promete - ministérios dos mais variados tipos, bilhete único em todas as cidades, metrô no Brasil inteiro, aumentos salariais, 13º para a Bolsa Família etc, etc.
Com o respaldo de uma imprensa que faz o papel de linha auxiliar, ele escolhe as perguntas que quer responder em suas entrevistas - e nenhuma delas serve para que o eleitor fique sabendo quem é José Serra, esse camaleão que um dia foi tido como desenvolvimentista, no outro apareceu como um duro fiscalista, e agora surge como uma caricatura ambulante.
Ah, ia me esquecendo. Tem ainda a verde Marina no páreo. Só que é difícil falar dela. Como o buraco na camada de ozônio, ela existe, mas ninguém a vê.
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