quinta-feira, 29 de julho de 2010

Press release


Se nunca foi um primor, a cobertura jornalística da campanha eleitoral deste ano é de doer. Os jornais se conformaram em ser porta-vozes dos candidatos: seguem as agendas, põem em destaque, invariavelmente, alguma frase que vai render uma repercussão com o adversário, alguma polêmica que vai ser soterrada pela seguinte - no dia seguinte. E assim vai.
Não há uma matéria mais trabalhada, uma pauta mais elaborada, que exija esforço maior do que tomar nota do que o sujeito está falando ou de ligar o gravador. O repórter virou um mero assessor de imprensa do político que cobre, ainda mais quando se sabe que um deles é dado a responder apenas as perguntas que quer.
Se mandassem um papagaio bem treinado acompanhar o dia a dia dois candidatos ele não ia se sair muito pior do que os profissionais que lá estão.
Não há, nessas matérias, nenhuma contextualização do ambiente político em que o presidenciável está, nenhuma informação sobre quem é a sua plateia, ou o público que o espera e o aplaude - ou vaia. Nada, nadinha mesmo, sobre a cultura do local, os seus hábitos, quem manda em quem, as condições econômicas e sociais do povo que vive lá, em que votaram nas eleições anteriores etc e tal.
Sei que trabalhar assim pode ser exaustivo. Sei também que é dessa forma que os bons profissionais vão se destacar dos medíocres.
E, principalmente, sei que uma campanha eleitoral como esta que o país começa a viver é um terreno extremamente fértil para a prática do jornalismo - nem bom, nem mau, apenas jornalismo.

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